Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
eBook • Receitas Caseiras

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Perguntas frequentes

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Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

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Capítulo 93 - O Pai Que Pediu Desculpas

Pai pede desculpas por tudo que errou; emoção toma conta de Diego, mamãe e Sombra em um instante de amor e perdão.

Capítulo 93 - O Pai Que Pediu Desculpas

O silêncio da sala

Eu, Sombra, estava deitado aos pés de Diego enquanto os últimos raios de sol se despediam pela janela da sala. O jantar já tinha acontecido horas antes e, agora, pairava um silêncio profundo por todo o lar. Cheirava a alho, arroz e feijão – resquícios da refeição ainda perfumavam o ar misturados ao odor suave dos panos de prato. Mamãe lia um livro no sofá, abraçada a Diego, que apoiava a cabeça em seu colo. Àquela altura da noite, só o tic-tac do relógio antigo ousava interromper o silêncio.

Levantei o focinho quando papai entrou devagar, segurando uma caneca de café na mão. Ele parou perto da porta, ajeitando a gola da camisa enquanto nos observava. Seus olhos encontraram os de mamãe e os de Diego, que retribuíram com um sorriso tímido. O peito do papai subia e descia acelerado, como se ele reunisse forças para falar. Eu senti o cheiro forte do aftershave misturado ao café amargo que ainda pingava na caneca. Algo em seu olhar me disse que aquela noite guardava um momento muito especial. Papai deu uma volta pelo ambiente, procurando coragem antes de nos chamar para perto.

As palavras do pai

— Eu… preciso pedir desculpas a vocês — começou ele, a voz trêmula. Engoliu em seco, limpando as mãos úmidas na calça. Um nó apertou meu peito canino ao ouvir o papai lutar para falar. — Sei que não fui o marido nem o pai que vocês mereciam — disse ele, fitando mamãe e depois Diego. Mamãe apertou as mãos dele, encorajadora, e papai prosseguiu: — Andei longe demais do que importa. Desculpem-me por isso.

Os olhos de papai estavam marejados quando ele olhou para mamãe e, em seguida, para Diego, segurando firme as mãos de cada um. — E a você, mamãe… — respirou fundo —, eu peço perdão do fundo do meu coração. Desculpe por tantas noites em que você precisou de mim e eu não soube ouvir, por ter me fechado nas minhas próprias frustrações. Quis proteger a família, mas acabei afastando quem eu mais amo. Você carregou tudo sozinha por tempo demais — confessou ele, num sussurro dolorido.

Diego se aproximou um pouco mais e apoiou uma mão no joelho do papai. Papai então voltou-se para o filho e continuou: — E você, meu menino, me desculpe também. Pensei que nunca seria capaz de entender o seu mundo, mas percebo agora que estava errado. Desculpe por ter ficado triste quando você chorava, por ter duvidado que você venceria cada obstáculo. Você sempre me ensinou, no seu silêncio, o que é ter coragem. Quero aprender com você. — Passou a mão trêmula pelo ombro de Diego —. Estou aqui, Diego. Eu entendi, e quero ser o seu melhor amigo também.

O perdão e a esperança

Mamãe não segurava mais as lágrimas. Ela ergueu-se devagar e envolveu papai num abraço apertado, repetindo baixinho: — Nós te perdoamos, meu amor. Papai desabou naquele abraço, finalmente deixando cair o muro que construíra ao redor de si mesmo. Diego abriu um sorriso silencioso e me puxou para o círculo, espalhando as quatro patas sobre os joelhos de todos. Eu me enfiei no meio, esfregando o focinho nas mãos do papai, sentindo o calor da reconciliação tomar conta de nós. Aquela família, que tanto sofreu, enfim se sentiu inteira de novo.

Papai então retirou uma das mãos de mamãe e, com ela, acariciou minha cabeça. — Obrigado, Sombra — ele murmurou, ainda embargado —, por nos ajudar a levantar quando estávamos tristes. Obrigado por cada lambeijo que nos deu quando ninguém mais sabia o que fazer. — Eu senti um arrepio feliz percorrer o corpo quando ele disse aquelas palavras. Deitei a cabeça no colo do papai, fechando os olhos de alegria. Mamãe enxugou o rosto com o dorso da mão, sorrindo através das lágrimas. Diego segurou firme a mão do papai, sorrindo sem palavras. Eu deitei no colo do papai, sentindo que tudo ficaria bem dali em diante.

Nos dias que se seguiram, aquela noite ecoou de luz em nosso lar. Papai decidiu mudar de verdade. Ele me contou que se inscreveu num curso de adestrador de cães online, desejando compreender melhor a minha língua silenciosa e aprender novas formas de ajudar o Diego. Chegava em casa todo animado para compartilhar comigo o que aprendera: comandos para me ensinar truques e métodos que podíamos usar nas nossas terapias juntos. Mamãe ria de cada nova habilidade que ele aprendia e explicava, e a casa parecia ganhar cores mais vivas a cada dia.

Com o passar das semanas, o lar antes mergulhado em ansiedade transformou-se num lugar de paz. Papai chegava mais cedo, ansioso para ouvir como foi o dia de cada um. Mamãe sorria com mais frequência e compartilhava seus desafios sem pressa. Diego sentia no ar que tudo tinha mudado para melhor; ele experimentava o mundo de novo com confiança renovada. E eu, Sombra, ao deitar a cabeça no colo do papai à noite, percebia que nosso amor havia se tornado ainda mais forte. O pedido de desculpas dele curou uma ferida muito profunda em nossos corações. A família inteira se sentia mais unida e o futuro parecia mais brilhante.


Capítulo 92 - A Mãe Que Voltou a Sorrir

Uma mãe redescobre o sorriso ao ver seu filho florescer graças ao amor incondicional e ao apoio transformador da comunidade.

Capítulo 92 - A Mãe Que Voltou a Sorrir

Havia um tempo em que o sorriso se escondia. Acordava de manhã, olhava no espelho e via o reflexo de uma mulher forte, mas cansada. Os olhos, antes cheios de luz, pareciam sempre em busca de respostas. O trabalho de cuidar de Diego, o peso da cadeira, as idas e vindas a médicos e terapias, o medo do amanhã e a saudade de uma vida mais leve: tudo se acumulava como livros numa estante já cheia. Houve momentos em que pensei que nunca mais seria capaz de rir sem peso no peito. Mas a vida, com seus desdobramentos imprevisíveis, me provou que sempre há chance para recomeçar.

A transformação começou de forma sutil. Foi no dia em que assisti Diego escrever a primeira letra no tablet, com o Sombra ao lado. Vi a luz nos olhos dele, a vitória em um gesto simples. Lembrei-me de que o sorriso surge quando reconhecemos o pequeno milagre escondido no cotidiano. Ele cresceu com o primeiro “mamãe” sussurrado com esforço. Cresceu com o balão amarrado à coleira de Sombra, balançando no quintal, e com a primeira palavra escrita de próprio punho. Cresceu com a notícia no jornal da cidade, com a feira da escola e com o certificado de superação. Cada capítulo que contamos, cada momento especial, foi construindo um motivo para sorrir.

Mas aquele sorriso completo, aquele que ilumina a alma e reacende a esperança, aconteceu quando percebi o valor do apoio coletivo. Foi quando Lídia me abraçou na feira, dizendo que a escola era nossa casa. Foi quando Clara chorou ao ver Diego pronunciar “mamãe”, como se o filho fosse dela. Foi quando Dona Helena bateu em minha porta, trazendo brownies e um coração gigante, disposto a dividir nossas dores. Foi quando Lourdes chegou com Bolt, disposta a aprender sobre inclusão ao treinar o seu cachorro. Foi quando o bairro inteiro montou um sorteio para comprar nossa cadeira motorizada. Foi quando sentamos em roda com vizinhos e crianças, transformando uma cadeira em nave espacial, um carrinho de pedal em aventura, uma rifa em praia.

Um dia, cansada de tantas frustrações, sentei-me na cozinha e chorei baixinho. Não queria que Diego me visse assim, não queria que Sombra se preocupasse. Mas Sombra ouviu meu suspiro e veio até mim. Colocou o focinho na minha perna. Não latiu, não me lambeu. Apenas me olhou. A conexão foi imediata. Compreendi que não estava sozinha. Havia um cão que me amava, um filho que me inspirava, um marido que me apoiava, uma comunidade que me acolhia. Levantei-me, limpei as lágrimas e preparei o café. Enquanto o cheiro se espalhava pela casa, um sorriso tímido surgiu em meu rosto.

Foi nessa jornada que descobri o poder das histórias e da imaginação. Descobri que a cadeira motorizada podia se transformar em nave. Descobri que Sombra podia ser quase irmão de Diego. Descobri que o parque era mais do que um espaço de lazer; era palco de nossas vitórias. Descobri que o sonho de uma cadeira motorizada unia pessoas. Descobri que havia um curso para ensinar o Sombra a ser nosso aliado, o Curso de Adestrador de Cães, que transformou um cachorro em herói. Descobri que cada desafio escondia um tesouro.

Uma manhã, acordei com um pensamento diferente. Senti que meu sorriso estava voltando, mas dessa vez não por força, e sim por convicção. Levantei-me, caminhei até a janela e vi Diego brincando com Sombra. Vi Carlos lendo um jornal e preparando o café. Vi a rua tranquila, as árvores balançando com o vento. O sol iluminava a cena. Senti o coração bater forte, mas não de ansiedade. Era uma batida diferente, de gratidão. Fui até a cozinha, olhei meu reflexo na chaleira de inox e, pela primeira vez em muito tempo, vi-me sorrindo naturalmente. Não era um sorriso forçado nem um sorriso polido para confortar alguém. Era genuíno. Senti as rugas ao redor dos olhos e percebi que elas não eram marcas de dor; eram marcas de vida.

Decidi, naquele dia, escrever sobre o sorriso. Peguei o diário que usávamos para registrar os sonhos realizados e comecei uma nova página. Escrevi: “Hoje, a mãe que estava cansada voltou a sorrir”. Não sabíamos para quem seriam as histórias do diário quando começamos. Era um registro para nós, para Diego ler e lembrar de onde veio, para Sombra sentir-se parte da família, para Carlos se sentir parte de cada conquista. Mas naquele momento, escrever sobre mim mesma e sobre meu sorriso serviu como terapia. Transformou a visão que eu tinha de mim.

Diego, curioso, aproximou-se. Pegou o tablet e escreveu: “Por que escreveu isso?”. Mostrei-lhe a página. Ele leu, analisou, e sorriu. Depois, escreveu: “E por que estava sem sorriso?”. Sorri de novo. Era hora de abrir um pouquinho meu coração. Expliquei que, às vezes, as pessoas se perdem em meio às responsabilidades, aos medos e às expectativas. Disse que, quando algo inesperado acontece na vida – como uma condição de saúde de um filho – muitas coisas precisam ser reorganizadas, e algumas se perdem no processo. Disse que, no início, eu não sabia como reagir, que fiquei triste, com raiva, com medo. Mas que, aos poucos, com ele e com Sombra, reaprendi a sorrir. Ele pegou minha mão e escreveu: “Você nunca vai perder de novo.”. O sorriso ali virou gargalhada entre lágrimas.

Ao longo das semanas, minha disposição mudou. O que antes parecia pesado tornou-se leve. O que parecia impossível tornou-se um desafio estimulante. Os projetos da comunidade, que eu via com receio por medo de incomodar, passaram a ser abraçados com alegria. Se alguém propunha uma rifa, um evento, um passeio, eu dizia sim. E cada sim reforçava meu sorriso. Percebi que sorrir não era só sobre a boca. Era sobre abrir o coração.

Senti meu sorriso florescer quando Lourdes me chamou para assistir a uma aula de dança adaptada. Fui, sem esperar. Descobri que poderia me divertir, que meu corpo ainda era capaz de mexer-se com graça. Voltei para casa rindo sozinha. Senti meu sorriso quando Dona Helena me fez prometer que levaríamos Diego à praia de novo, e que levaríamos Sombra e Bolt juntos, e que dançaríamos à beira-mar com os pés na areia. Senti meu sorriso quando Lídia me pediu para falar em uma palestra sobre inclusão e eu, com a voz trêmula, falei de mim, de Diego, de todos nós. Senti meu sorriso quando Clara me agradeceu por ter confiado nela desde o início, e disse que minha coragem a inspirava. Senti meu sorriso quando Carlos me levou para jantar, improvisadamente, e eu percebi que era a primeira vez em muito tempo que saíamos os dois, só como casal. Rimos, conversamos, sonhamos.

Houve um momento especial em que notei que o sorriso havia se instalado definitivamente. Foi em um domingo de primavera. O quintal estava cheio: as crianças do bairro pulavam corda, Sombra e Bolt corriam, música tocava. Diego e seus amigos jogavam um jogo de tabuleiro. Eu estava na cozinha, fazendo limonada. Ao olhar pela janela, vi a cena e senti uma onda de satisfação. Pensei em tudo que passamos. Pensei na mãe que chorava no banheiro com medo do futuro e na mãe que agora cantava enquanto cortava limões. Pensei na mulher que escondia a tristeza e na mulher que agora falava de sentimentos com orgulho. Foi aí que percebi: a mãe que voltou a sorrir era, antes de tudo, uma mãe que se aceitava, que se perdoava, que entendia que não precisava ser forte o tempo todo para ser boa.

Escrever essas histórias, seja para o diário, seja para compartilhar com a escola, seja para reviver com Diego e Sombra, era o que me mantinha presente. Eu sabia que nossos capítulos poderiam inspirar outras famílias. Sabia que, ao contar como perdi e recuperei o sorriso, poderia ajudar outras mães a se reencontrar. E então comecei a participar de grupos de apoio. Na escola, conversava com mães recém-chegadas ao mundo da inclusão. Contava como foi nosso caminho com Diego. Como achamos o curso que transformou Sombra em um companheiro indispensável. Como choramos e rimos. Como a comunidade nos acolheu. Não escondia as dificuldades, mas enfatizava que o sorriso sempre pode voltar.

Foi numa tarde dessas, durante uma roda de conversa, que uma mãe, em lágrimas, disse: — Eu não consigo mais sorrir. — Tomei a mão dela e respondi: — Eu também não conseguia. Mas o sorriso estava dentro de mim, esperando a oportunidade certa. — Contei-lhe a história da cadeira que virou nave. Contei-lhe do carrinho de pedal, da rifa, da cadeira motorizada. Contei-lhe que, às vezes, transformar objetos em sonhos nos ajuda a resgatar emoções. Ao final da conversa, ela sorriu timidamente. — Talvez eu transforme a cadeira do meu filho em um barco — disse. Sorri de volta. Sabia que aquele barco traria luz.

Os dias continuam cheios de desafios. Existem consultas médicas, noites mal dormidas, preocupações com o futuro. Mas agora, enfrento tudo com outro olhar. O sorriso não está constante, não é um truque permanente. Mas a diferença é que sei onde encontrá-lo. Sei que posso fechar os olhos, lembrar de Diego com Sombra correndo no parque, lembrar do cheiro de bolo de fubá, lembrar do som de várias crianças imitando foguetes, e o sorriso volta. Sei que posso olhar ao redor e ver os amigos que fizemos, a comunidade que construímos, o amor que nos envolve. Sei que posso ver Diego, com a cabeça inclinada, concentrado em escrever, e sentir o coração se expandir.

Alguns meses atrás, Diego escreveu no tablet: “Você está feliz?”. Respondi que sim, que agora sou. Ele fez um sinal de pergunta. Expliquei: — Estou feliz porque aprendi a aceitar nossa vida, com seus dias bons e ruins. Aprendi a me cercar de pessoas que me elevam. Aprendi a buscar alegria nas pequenas coisas. Aprendi a não carregar o mundo sozinha. Aprendi a deixar que você me mostre novas formas de sorrir. — Ele sorriu e escreveu: “Eu também estou.”. Sombra latiu baixinho, como se concordasse. E naquele momento, percebi que nossa felicidade estava sincronizada.

Então, se você, que lê essa história, se sente sem sorriso, quero dizer: há esperança. As lágrimas que você derrama hoje regam uma coragem que vai florescer amanhã. O peso que você carrega, aos poucos, se transformará em força. O medo que te paralisa, um dia, vai se transformar em combustível para criar novos caminhos. Não tenha medo de pedir ajuda. Não se sinta culpada por não ser perfeita. Não ache que você tem que esconder sua dor. Permita-se sonhar e compartilhar. Permita-se transformar a cadeira em nave, o carrinho em carruagem, a cozinha em palco de risadas. Um dia, quando menos esperar, vai se olhar no espelho e se surpreender sorrindo. E vai perceber que o sorriso sempre esteve lá, esperando a hora de voltar.

Hoje, a mãe que voltou a sorrir se sente mais inteira. Não porque a vida se tornou fácil, mas porque aprendeu a olhar para ela de outro jeito. Sabe que a jornada ainda é longa. Sabe que haverá dias de nuvens. Mas sabe, também, que sempre pode olhar para o céu azul daquele sábado em que Diego pilotou a nave, ou para o dia em que correu de carrinho com ele, ou para o parque onde andaram juntos, e sorrir. Porque, no fundo, é disso que se trata: de caminharmos e sorrirmos juntos, lado a lado, com Sombra sempre ao nosso lado, abanando o rabo como quem diz: “Continuem, estou aqui”.


Capítulo 91 - A Cadeira Que Virou Nave

Transformando a cadeira em nave espacial na imaginação de Diego, família e amigos embarcam numa jornada de sonhos e descobertas.

Capítulo 91 - A Cadeira Que Virou Nave

Há dias em que a imaginação se torna o combustível mais potente para atravessar a realidade. Foi assim com a cadeira que virou nave. Tudo começou com uma história que li para Diego numa noite fria de domingo, quando a chuva insistia em bater no telhado e o vento uivava pelas frestas. O livro falava de um menino que transformava objetos comuns em veículos fantásticos. Uma caixa virava barco, um lençol virava asa-delta, uma panela virava capacete de astronauta. Diego, com os olhos atentos, acompanhava cada aventura. Sombra, ao nosso lado, ouvia com a cabeça apoiada em meu colo, respirando compassadamente. Quando fechei o livro, Diego não demorou a escrever no tablet: “Minha cadeira pode ser nave?”. Sorri. — Claro que pode. Basta querer.

No dia seguinte, ele acordou com uma energia diferente. Pegou papel e caneta, desenhou uma cadeira com asas e fogo saindo das rodas. Escreveu ao lado: “Nave de rodas”. Lembrei-me imediatamente de nossas jornadas: a cadeira manual, a motorizada, o carrinho de pedal. Cada uma, à sua maneira, havia sido uma nave, levando-nos a destinos inimagináveis. Mas a ideia de transformar a cadeira de rodas em nave espacial, ainda que na fantasia, tinha um sabor novo. Eu sabia que Diego precisava disso: uma brincadeira capaz de ampliar seu mundo interior, de dar asas a quem a sociedade tenta limitar.

Contei a Lídia e a Clara sobre a nova aventura. As duas se animaram. Lídia sugeriu que fizéssemos um projeto com a turma sobre universo, estrelas e viagens espaciais. Clara disse que poderíamos usar a imaginação na terapia, trabalhar palavras novas, sons de foguetes, nomes de planetas. Lourdes, ao saber, ofereceu-se para costurar um “cinto de astronauta” para Diego. Dona Helena mandou um capacete de papel-machê, pintado de prata. Bolt teria uma espécie de antena feita de arame. Sombra, claro, receberia um lenço com estrelas. Carlos, sempre engenhoso, trouxe caixas de papelão grandes, rolos de papel alumínio, pedaços de plástico colorido. — Vamos construir uma nave de verdade para a cadeira — disse. — Pelo menos por fora. — Assim, aos poucos, a comunidade entrou na brincadeira. A rua virou NASA.

No sábado, reunimos-nos na garagem. Espalhamos jornais no chão, abrimos as caixas, separamos fitas, tesouras, tintas. Diego estava eufórico. Escrevia no tablet orientações: “A asa precisa ser grande”, “O fogo é vermelho e laranja”, “Preciso de um painel de controle”. Carlos colou papel alumínio em volta da cadeira, transformando-a em metal brilhante. Lourdes costurou um cinto com velcro, para que Diego se sentisse preso na nave. Lídia ajudou as crianças a recortar estrelas de cartolina que colamos nas rodas. Clara trouxe adesivos de planetas que espalhamos pelo painel da cadeira. Eu pintei um tubo de papelão de vermelho e laranja, transformando-o em um “propulsor”, e o prendi atrás da cadeira com fita. Sombra observava, às vezes colocava o focinho em cima de um pedaço de papelão e lambia cola, e nós ríamos. Bolt tentava ajudar, mas acabava com tintas na pata.

Quando tudo estava pronto, nos afastamos para ver o resultado. A cadeira, agora transformada, era, de fato, uma nave espacial. Tinha asas de papelão pintadas, um propulsor flamejante, um painel cheio de adesivos, um capacete de astronauta sob o assento, e até um mini radar feito de um antigo CD e um palito. Diego olhou, olhos esbugalhados, e escreveu: “Minha nave!”. Sentei-me na frente dele, segurei suas mãos e respondi: — Sim, e você é o comandante. — Sombra latiu, como se aprovasse. Carlos sorriu orgulhoso. Lídia e Clara tiraram fotos. As crianças aplaudiram. Dona Helena chorou, emocionada. — É a cadeira que virou nave! — disse, rindo.

O passo seguinte era, claro, decolar. Mas uma nave não decola em qualquer lugar. A rua, com seus buracos e postes, não era segura. Decidimos que o lançamento aconteceria no campo da escola, um espaço aberto, gramado, onde poderíamos imaginar que era uma plataforma de lançamento. No dia marcado, levamos a nave até lá. O campo estava decorado com bandeirinhas de planetas, feitos pelas crianças. Havia um grande banner escrito “Base de Lançamento Diego”. Clara distribuiu boletins de lançamento que explicavam o plano: contagem regressiva, ligar motores (fazer barulhos de foguete com a boca), decolar (mover a cadeira), pousar (parar na linha marcada). Todos estavam empolgados. Lídia, como boa organizadora, segurava um megafone de brinquedo e explicava aos “astronautas” o que fazer.

Diego posicionou a cadeira na linha de largada. Sombra sentou-se ao lado, com um lenço estrelado no pescoço e o focinho alto, como se respirasse a atmosfera. As crianças, enfileiradas, faziam sons de foguetes: “Fshhhhh”, “Ruuummm”. Carlos, atrás, segurava a cadeira para o caso de precisar frear. Eu, ao lado, segurava a mão de Diego, mas sem interferir. — Pronto? — perguntei. Ele escreveu: “Pronto!”. Lídia levantou a mão e começou a contagem: — Dez, nove, oito... — As vozes se uniram: — Sete, seis, cinco... — Diego sorria, ansioso: — Quatro, três, dois, um! — E todos gritaram: — Decolar!

Diego avançou com a cadeira. Sombra correu ao lado. As crianças correram atrás, imitando naves. Bolt tentou acompanhar. O barulho de pequenas bocas imitando foguetes enchia o campo. Lídia usava o megafone para narrar: — Estamos decolando! Deixando a atmosfera! Rumo à Lua! — Diego, concentrado, dirigia a nave com habilidade. A cadeira parecia deslizar na grama, as asas balançavam ao vento. No meio do campo, ele fez uma curva; as crianças gritaram de emoção. Clara, correndo atrás, filmava tudo. Dona Helena, com um chapéu de astrônomo, aplaudia. Lourdes segurava Bolt, rindo. Carlos olhava para Diego com um orgulho que eu conheço bem.

Depois de duas voltas, Diego parou a cadeira na linha de chegada. Desligou os motores, ou melhor, parou o joystick. Todos correram para abraçá-lo. Lídia, emocionada, disse: — Missão concluída com sucesso! — Clara perguntou: — Como foi sua viagem, comandante? — Diego escreveu: “Melhor do que um foguete de verdade.”. As crianças gritaram “Eba!” e começaram a pedir para pilotar a nave também. Rimos. Combinamos que, naquela manhã, outras crianças poderiam sentir como era ser astronauta. Ajustamos cintos, colocamos capacetes, empurramos a nave, fizemos barulhos de foguete. Cada criança que passava pela nave saía com os olhos brilhando. E Diego, ao lado, era o chefe da base. Dava dicas, segurava o tablet e escrevia instruções: “Não virar rápido.”, “Segurar forte.”, “Cuidado com Sombra.”. Sombra, por sua vez, corria ao lado de cada nave, participando das aventuras como se fossem reais.

O exercício continuou por horas. Quando o sol começou a se esconder, encerramos. Voltamos para casa exaustos, mas felizes. À noite, enquanto Diego dormia, relendo o livro do menino que transformava objetos, sentei-me na sala e pensei no poder da imaginação. A cadeira de Diego, que um dia foi motivo de dor, de frustração, agora era uma nave espacial que lhe dava alegria. Pensei no que significa transformar algo tão ligado à deficiência em algo ligado ao sonho. E percebi que, no fundo, tudo depende de como olhamos. Com criatividade e apoio, qualquer limite pode ganhar outra forma.

Nos dias seguintes, a história da cadeira-nave espalhou-se. Pessoas do bairro perguntavam quando seria o próximo lançamento. Lídia preparou uma apresentação com as fotos e vídeos para mostrar na reunião da escola. Clara levou os vídeos para uma conferência sobre inclusão, para mostrar como o lúdico pode integrar. Até pessoas de outros bairros mandaram mensagens: “Podemos levar a nossa cadeira para virar nave também?”. Eu respondia que sim, que era só usar papel, cola e imaginação. Recebemos fotos de outras crianças transformando cadeiras, andadores, muletas em naves, aviões e carros de corrida. A comunidade digital crescia. E a ideia de transformar o que é visto como limitação em arte e sonho me enchia de esperança.

Certo dia, caminhando na rua, uma senhora, que mal conhecia, parou-me e disse: — Você é a mãe do menino da cadeira-nave? — Respondi que sim, surpresa. — Quero agradecer — continuou. — Ver aquilo me fez ver meu andador com outros olhos. Pintei-o de amarelo e agora o chamo de “meu avião”. — Choramos e nos abraçamos. — É incrível como um gesto simples pode mudar a percepção — pensei. Em casa, contei a história a Diego. Ele sorriu e escreveu: “Somos astronautas na terra.”. Achei poético.

Essa experiência também nos fez refletir sobre acessibilidade. Carlos sugeriu que pudéssemos levar a nave a outras instituições, para mostrar que cadeiras são ferramentas, não prisões. Clara conversou com terapeutas sobre a importância do lúdico. Lídia escreveu um texto no blog da escola sobre “Cadeiras que voam”. Um pai de um aluno sugeriu uma oficina mensal de customização de dispositivos. Lourdes pensou em fazer uma feira onde cada um podia mostrar seu meio de transporte personalizado. A ideia foi tomando forma. Em poucas semanas, estávamos organizando um evento chamado “Rodas e Asas”, onde cada participante levaria algo que o ajudava a se locomover e personalizaria com elementos que representassem seus sonhos. A praça ficou colorida de bengalas decoradas, skates com pintura de dragões, bicicletas com flores, cadeiras de rodas com asas, andadores com luzes.

No evento, Diego levou sua nave. Não era apenas uma peça de cartolina; era símbolo de transformação. As pessoas o abordavam, perguntavam como ele fizera, quem havia ajudado. Ele escrevia no tablet: “Meus amigos e minha família.”. Sombra, ao lado, com seu lenço estrelado, virou atração. As crianças faziam carinho, e ele lambia. Dona Helena vendia brownies decorados com foguetes. Lourdes distribuía pipoca. Lídia e Clara conduziam atividades. Um senhor com paralisia cerebral, que usava cadeira, se emocionou. — Nunca pensei que poderia ver algo assim — disse. — Sempre vi minha cadeira como um peso. Hoje vejo como asas. — Lágrimas. Abraços.

Um momento marcante da feira foi quando uma menina, de cerca de oito anos, perguntou a Diego: — Por que sua cadeira é uma nave? — Ele pensou e escreveu: “Porque eu quis.”. A menina sorriu e respondeu: — Então o meu patinete é um barco. — Pegou um canetão, desenhou ondas azuis no patinete e começou a “remar” pela praça. O mundo dela transformou-se em mar. Outras crianças seguiram, desenhando montanhas nas bicicletas, nuvens nos skates. A criatividade contagiante fez o evento transbordar em alegria.

À noite, exaustos, voltamos para casa. Sentei-me com Diego na cama. Estávamos ambos com olhos pesados, mas a mente ainda fervilhava. Perguntei o que ele tinha aprendido naquele dia. Ele escreveu: “Que tudo pode virar outra coisa.”. Fiquei pensando. — E o que você quer que vire o que amanhã? — perguntei. Ele sorriu, pensou, e escreveu: “Não sei. Talvez a mesa vire pista de dança?”. Rimos. Sombra, deitado aos pés, ergueu a cabeça, como quem diz: “Estou dentro”. Agradeci por ter um filho com tanta imaginação. E por ter uma comunidade que topa entrar nas nossas loucuras.

Dias depois, Dona Helena me chamou novamente para um café. — Já pensou no próximo projeto? — perguntou, piscando. Ri. — Acho que preciso descansar — respondi. — Mas sei que não vai demorar para Diego inventar algo novo. — Ela assentiu. — E nós estaremos aqui. — Tomei um gole de café e senti o sabor da vida. Uma mistura de amargo e doce, que se torna agradável quando se compartilha.

A cadeira que virou nave transformou-nos mais do que transformou o objeto. Mostrou-nos a importância de olhar para além do óbvio, de colorir a rotina, de acreditar no poder da imaginação. Lembrou-nos que nossos filhos, com ou sem deficiência, precisam de aventuras, de histórias que alimentem a alma. Reforçou a ideia de que cada dispositivo de apoio, cada auxílio de mobilidade, pode ser mais que uma ferramenta funcional; pode ser uma porta de entrada para sonhos. E, acima de tudo, mostrou que quando temos amor, amigos, uma vizinhança solidária e um cão fiel, até as viagens espaciais se tornam possíveis, mesmo que na calçada de casa.


Capítulo 90 - Quando Fui no Carrinho com Ele

Em um passeio diferente, Diego e Sombra descobrem novas formas de liberdade, fortalecendo ainda mais seu laço de amizade.

Capítulo 90 - Quando Fui no Carrinho com Ele

Às vezes, a vida nos reserva surpresas que parecem simples, mas que revelam profundos significados. Foi assim com o carrinho de pedal. Nossa rua já tinha visto de tudo: bicicletas, patins, cadeiras de rodas manuais e motorizadas, mas nunca um carrinho de pedal grande o suficiente para que Diego pudesse experimentar. Era o tipo de brinquedo que remetia à infância, à sensação de dirigir algo por conta própria, mesmo que fosse apenas um carrinho. Mas para nós, aquele dia se tornaria mais um marco.

A ideia surgiu numa tarde de sábado, enquanto estávamos na praça principal. Um grupo de crianças do bairro brincava com carrinhos de pedal: tinham em cores vibrantes, com pequenos volantes e pedais que giravam e faziam as rodas moverem-se. Diego observava, os olhos fixos, as mãos agarradas no tablet. Sombra deitava ao lado, respirando tranquilamente. — Você gostaria de andar em um carrinho daqueles? — perguntei, sem esperar uma resposta. Diego pensou por um segundo e escreveu: “Quero. Mas não posso pedalar.”. Ele sabia que suas pernas não obedeciam ao comando do pedal. Por um momento, meu coração apertou. Eu não queria frustrá-lo, mas também sabia que quando há desejo, há possibilidades.

Conversamos com a mãe de uma das crianças, que nos contou que o carrinho pertencia a um grupo do bairro que alugava brinquedos adaptados. — Eles têm um carrinho de pedal que pode ser adaptado para cadeiras de rodas — explicou. — É maior, tem um banco que cabe a cadeira, e outra pessoa pode pedalar atrás. — Meus olhos brilharam. Escrevi o contato. Era a solução perfeita: Diego poderia sentir a sensação de estar em um carrinho, e Sombra poderia correr ao lado, sem a limitação da cadeira motorizada. Nos dias seguintes, planejei tudo. Liguei para o grupo, fiz a reserva, pedi ajuda a Carlos para adaptar o carrinho. Clara e Lídia ficaram animadas. Dona Helena ofereceu-se para decorar o carrinho com fitas. Lourdes disse que levaria Bolt para correr com Sombra. A comunidade se mobilizava novamente.

No dia marcado, o carrinho chegou pela manhã. Eu nunca tinha visto algo tão robusto e, ao mesmo tempo, acolhedor. Era azul, com um assento largo, cintos de segurança, uma plataforma para a cadeira, e um grande conjunto de pedais atrás. Também havia um guidão duplo, que permitia que o piloto controlasse com mais segurança. Carlos e um amigo ajustaram as proteções, conferiram o freio. Eu convidei Diego para ver. Ele aproximou-se com a cadeira motorizada, olhos arregalados. Passou a mão pelo metal, pelo assento. Sombra o acompanhava, cheirando tudo. — Gostou? — perguntei. Ele escreveu: “É lindo.”. Senti que o coração dele já estava pedalando.

Decidimos que a primeira experiência seria no parque, onde o terreno era plano e onde Sombra poderia correr à vontade. Carlos seria o piloto. Diego entraria na plataforma com a cadeira, prenderíamos os cintos, ajustaríamos as alavancas. Sombra e Bolt correriam ao lado. Lídia e Clara, mais uma vez, chamaram as crianças para assistir, mas deixamos claro: seria uma experiência íntima no começo; queríamos ver como Diego se sentiria. O carrinho, agora com fitas azuis e vermelhas, estava parado na calçada. As crianças, curiosas, mantinham distância. Carlos respirou, sentou-se na parte traseira do carrinho, onde ficavam os pedais. Diego entrou com a cadeira motorizada desligada, travamos as rodas, ajustamos os cintos. Sombra olhou para nós, parecia perguntar: “Posso ir agora?”. — Sim — respondi, acariciando-lhe a cabeça.

O carrinho começou a andar. Os primeiros metros foram lentos, cuidadosos. Carlos pressionava os pedais com força constante, o carrinho se movia; Diego segurava o guidão dianteiro, como se controlasse o próprio destino. Sombra corria ao lado, sincronizado com o movimento. A cena era fantástica: um carrinho adaptado, um menino com sorriso largo no rosto, um cão fiel correndo como se tivesse asas. Algumas crianças gritavam de emoção: — Vai, Diego! Vai, Sombra! — Lídia filmava com o celular. Clara chorava discretamente. Eu me peguei correndo ao lado, rindo e chorando ao mesmo tempo. Carlos, pedalando, olhou para trás e gritou: — Isso é incrível! — Diego escreveu no tablet, segurando-o com a mão livre: “Eu estou andando de carrinho!!!”.

A sensação de vento no rosto de Diego, algo tão simples, era para ele uma novidade. Senti que, naquele momento, ele ganhava mais uma camada de confiança. Sombra, por sua vez, parecia um filhote novamente. Corria sem cansar, olhando para Diego, como se quisesse garantir que ele estava bem. Bolt, menos acostumado, foi atrás, mas em um ritmo mais lento. Lourdes o incentivava. Algumas crianças começaram a correr atrás, ri, gritei para terem cuidado, e vi que a alegria era contagiante.

Depois de uma volta no parque, paramos para que todos descansassem. O carrinho era pesado, Carlos suava, mas sorria. Diego estava extasiado. Escreveu: “Quando posso ir de novo?”. Disse a ele que poderíamos fazer outra volta depois de comer e beber água. Sombra bebia água de uma tigela, ofegante. Deitei-me na grama, observando as nuvens. Naquela hora, lembrei-me de todas as vezes em que a palavra “não” nos foi dita. “Ele não pode andar.” “Ele não pode falar.” “Ele não pode isso ou aquilo.” E, no entanto, lá estávamos. Ele andando de carrinho, mesmo que não fosse da forma convencional. Era nossa maneira de transformar impossibilidades em possibilidades.

O segundo percurso foi mais ousado. Carlos sugeriu que eu pilotasse. Ri, confesso que fiquei nervosa. Mas Diego insistiu: — “Você vai comigo?” — perguntou. E eu não podia negar. Coloquei o capacete, ajustei os pedais para minhas pernas mais curtas. Sentei-me atrás. A sensação de controlar algo assim era nova para mim também. Começamos devagar. O carrinho obedeceu ao meu comando. Senti a força nos pedais. Era diferente de empurrar a cadeira manual; era direcionar um equipamento que dependia da minha coordenação e força. Mas o mais bonito era olhar à frente e ver Diego segurando o guidão, sentindo-se confiante, e Sombra correndo, abanando o rabo. Era como se estivéssemos em um filme, aqueles que terminam com uma música emocionante e uma frase inspiradora.

No meio do caminho, sentei-me e pensei em como a mobilidade era um tema central em nossas vidas. A cadeira manual, a motorizada, o carrinho de pedal, tudo representava autonomia. Cada equipamento, cada adaptação, era uma ponte entre o que poderia ser um “não” e o que se tornava um “sim”. E percebi que o mais bonito era o compartilhamento dessa mobilidade. Era sempre “nós”: eu, Diego, Sombra, Carlos, a comunidade. Nunca “eu”. O carrinho nos levou literalmente juntos. E isso tinha um simbolismo enorme: andar junto. Nunca antes, eu e Diego havíamos andado lado a lado, com Sombra correndo, em um veículo. Era sempre ele e eu empurrando; ele e Sombra, com a cadeira motorizada; agora éramos todos.

Quando terminamos, paramos sob a sombra de uma árvore. As crianças que observavam, agora mais corajosas, se aproximaram. Um menino perguntou se poderia experimentar o carrinho. Explicamos que, por ora, era apenas para Diego, mas que, em outro momento, organizaríamos um evento. O menino não se chateou; ao contrário, ofereceu-se para ajudar a empurrar o carrinho de volta. Um pequeno gesto de solidariedade que me emocionou. Lourdes, ao ver Bolt cansado, riu: — Acho que meu Bolt precisa de aulas com Sombra. — Respondi: — Ele está indo muito bem. — Bolt, ofegante, abanou o rabo como quem concorda.

À noite, em casa, Diego escreveu uma nota no caderno que intitulamos “Diário dos Sonhos Realizados”. Ele escreveu: “Hoje andei de carrinho com o Sombra. Minha mãe pedalou. Foi como voar. As pessoas bateram palmas. Senti vento no rosto. Achei que estava dirigindo. Queria fazer de novo. Sombra correu muito. Depois dormiu. Eu dormi feliz. Obrigado.”. Li e chorei. Anotei ao lado: “Cada conquista sua é a minha conquista. Cada sorriso seu ilumina meu mundo. Obrigada por me deixar andar com você.”. Fechei o caderno, beijei-o na testa e desejei boa noite.

O efeito daquele passeio não se limitou a nós. Na semana seguinte, Clara relatou que várias crianças da escola estavam escrevendo sobre mobilidade e inclusão. Lídia preparou uma aula sobre meios de transporte adaptados. Dona Helena começou a pesquisar triciclos adaptados para idosos. Lourdes e eu conversamos sobre organizar mais eventos de empréstimo de brinquedos adaptados. Bolt e Sombra ganharam fãs. Recebemos mensagens de pessoas do bairro dizendo que ficaram emocionadas ao ver a cena. Uma senhora escreveu: “Eu nunca pensei que veria algo tão lindo. Obrigada por encher meu coração.”. E percebi que aquele dia transcendeu nosso quintal, nossa rua. Inspirou outros a repensar o que é possível.

Quando pensamos em “quando fui no carrinho com ele”, não é apenas sobre a experiência física de usar um brinquedo adaptado. É sobre dizer sim a desejos que parecem pequenos para alguns, mas gigantes para outros. É sobre a alegria nos olhos de um menino que nunca havia sentido o vento no rosto daquela forma. É sobre um cão que, mesmo envelhecendo, encontra energia para correr ao lado de seus humanos. É sobre uma mãe que descobre músculos nas pernas que não sabia que tinha, e que sente orgulho de cada pedalada. É sobre uma comunidade que se mobiliza, que aprende, que se sensibiliza. É sobre amor em forma de movimento.

O carrinho de pedal ficou conosco por algumas semanas. Diego pediu para usá-lo algumas vezes mais, sempre com Sombra ao lado. Em uma tarde, empurramos o carrinho até a pracinha menor do bairro, e algumas crianças pedalaram atrás. Diego começou a ajudar outras crianças a entrar e sair do carrinho, ajudava a afivelar os cintos, ensinava a posição das mãos no guidão. Ele se tornou uma espécie de instrutor. As crianças o ouviam, e ele se sentia importante. Sombra, sempre ao lado, ficava atento. E eu, ao ver a cena, pensei: quem diria que a vida, com suas curvas, me traria até aqui? Quem diria que aquela criança, que um dia disseram que não andaria, estaria agora guiando outras? Quem diria que o carrinho seria símbolo de algo tão bonito? A vida, definitivamente, é cheia de surpresas.

E assim, guardamos esse dia no coração e no diário. Sempre que Diego abre o caderno e lê “O dia que andamos juntos”, eu sorrio. E lembro que, na nossa história, andar junto sempre terá um significado especial. Porque andar junto significa incluir, aprender, sonhar, realizar. E porque sempre haverá um carrinho esperando para levar-nos a lugares surpreendentes, desde que mantenhamos a vontade de pedalar e a coragem de sonhar.


Capítulo 89 - O Dia Que Andamos Juntos

Um momento inesquecível une Diego e Sombra num passeio que sela seu vínculo e prova que amor e perseverança caminham lado a lado.

Capítulo 89 - O Dia Que Andamos Juntos

Era uma manhã que tinha cheiro de promessa. O céu estava límpido, um azul contínuo como raramente se vê, e o ar trazia aquele friozinho gostoso de outono. Diego acordou cedo, sem precisar de despertador ou de meus toques suaves. Ele sabia, como se o coração tivesse marcado na agenda, que aquele dia seria diferente. Desde a chegada da cadeira motorizada e da viagem ao mar, ele vinha falando sobre andar. Não o andar das pernas, que o corpo não permitia, mas o andar da independência, da liberdade. — Quero andar ao lado do Sombra — escreveu no tablet dias atrás. E, naquele dia, estávamos prontos para tornar esse desejo realidade.

Passamos semanas treinando. Eu, Carlos e Diego criamos um roteiro. Primeiro, passeios curtos ao redor da casa com a cadeira. Depois, trajetos mais longos até a esquina, a padaria, a praça. Sombra adaptara-se incrivelmente bem. Graças aos ensinamentos do Curso de Adestrador de Cães, ele aprendeu a caminhar ao lado da cadeira motorizada sem se assustar com os movimentos ou o som do motor. Ensinei-o a parar quando a cadeira parava, a avançar quando ela avançava. Usávamos o reforço positivo: petiscos, carinho, palavras de incentivo. Diego observava, aprendia, sorria. Às vezes, tocava a orelha de Sombra e sussurrava algo só para ele. Era como se estivessem em um complô de irmãos.

O percurso que escolhera para o “dia que andaremos juntos” era simbólico: do nosso portão até o parque onde ele e Sombra passaram tantas tardes ao longo dos anos. Aquele parque testemunhara as primeiras tentativas de empurrar a cadeira manual, as primeiras brincadeiras com Sombra, os piqueniques, as lágrimas de frustração e os risos de conquistas. Lídia e Clara sabiam do plano e tinham marcado encontros com os colegas de Diego para celebrar. Dona Helena ficou encarregada de levar brownies; Lourdes, de preparar biscoitos para os cães; Bolt, claro, também estaria lá. Tudo estava pronto.

Vestimos Diego com calça confortável, casaco de moletom azul e tênis novos. Ele colocou um cachecol, presente da avó, com o cuidado de quem se arruma para um evento importante. Sombra estava de lenço vermelho, coleira azul e brilho nos olhos. Carlos checou a bateria da cadeira, a pressão dos pneus e os freios. Eu respirei fundo, me dividindo entre emoção e nervosismo. Quando abri o portão, o sol entrou sem pedir licença, iluminando nosso quintal. Diego sorriu largo, olhou para Sombra e escreveu: “Vamos?”. Eu respondi: — Vamos. — Apertei o botão de ligar da cadeira, e ela fez um zumbido baixo. Diego posicionou a mão no joystick. Sombra se colocou ao lado, ligeiramente à frente da roda. Caminhamos.

Saímos pelo portão devagar. Primeiro, um metrinho, depois dois. Diego testava o joystick com segurança, movendo a cadeira com precisão. Sombra olhava para a rua e para a cadeira, atento. Chegamos à calçada. O primeiro desafio: a rampinha que íamos sempre para sair de casa. Levantei a cabeça e vi Carlos, atrás, pronto para ajudar. Diego respirou e avançou. A cadeira subiu, Sombra acompanhou. Para fora, o mundo se expandia. As pessoas na rua nos viram e acenaram. Dona Helena estava no portão, com as mãos juntas, como quem assiste a uma procissão. — Olha só esses meninos! — exclamou. — Eu sabia que ia ser lindo. — Diego acenou com a mão livre. Sombra abanou o rabo. Eu sorri e limpei uma lágrima rápida que surgiu.

Seguimos pela rua principal. Era asfaltada, mas havia buracos, carros, gente passando. Eu e Carlos íamos um pouco atrás, atentos, mas sem interferir. Diego controlava a cadeira com maestria. Desviava dos buracos, parava nas esquinas. Sombra, obediente, seguia ao seu lado. As pessoas que nos conheciam paravam para observar. Alguns levantavam o polegar, outros diziam palavras de incentivo. A padaria abriu a porta e o padeiro, sempre sorridente, gritou: — Bom passeio, campeão! — Uma senhora com sacolas parou e disse: — Isso é o amor caminhando! — E era. A cada passo, ou melhor, a cada metro, eu sentia uma onda de gratidão.

Chegamos à avenida que dava acesso ao parque. Eu sabia que o maior desafio era atravessá-la. Havia carros passando. Paramos na faixa de pedestres. Pressionei o botão do semáforo. O sinal vermelho para os carros acendeu, e o verde para pedestres piscou. — Vai devagar, meu amor — murmurei. Diego avançou. Sombra foi junto. No meio da faixa, um carro que não prestou atenção avançou um pouco, fazendo barulho. Meu coração subiu à garganta. Carlos deu um passo à frente. Diego, firme, parou. Sombra se posicionou na frente da cadeira, como se quisesse dizer “pare”. O motorista freou completamente, pediu desculpas com a mão. Respirei de novo. — Você está indo muito bem — falei. Diego sorriu, e avançou. Do outro lado da rua, já dava para ouvir risadas de crianças, o farfalhar das árvores do parque e o som de uma música ao longe.

O portão do parque estava decorado com balões coloridos, cartazes com palavras como “Bem-vindos!”, “Dia especial!”, “Somos todos caminhantes!”. As crianças da escola estavam à nossa espera. Lídia e Clara estavam ali, ao lado de uma mesa com sucos e bolos. Lourdes segurava Bolt, que abanava o rabo freneticamente. Dona Helena trazia um tabuleiro cheio de brownies. Quando cruzamos o portão, as crianças aplaudiram. Foi espontâneo, sincero. Algumas gritavam: — Diego! Sombra! — Outras balançavam cartazes escritos com letras coloridas: “Você consegue!” “Somos seus fãs!” Diego parecia em estado de graça. Ele se virou para mim, olhos brilhando, e escreveu no tablet: “Está acontecendo!”. Eu ri, abracei-o e respondi: — Sim, meu amor. — Era real. Aquele dia tinha chegado.

Lídia pegou o microfone de um pequeno amplificador e disse: — Hoje, estamos testemunhando algo que vai muito além de um passeio. Estamos vendo o resultado de amor, dedicação, amizade e, principalmente, do desejo de andar junto, de estar junto. — Ela olhou para Diego. — Você sempre nos disse que queria caminhar ao lado do Sombra. E hoje você está. Isso é lindo. — Clara, emocionada, completou: — E também nos mostra que todos nós, quando sonhamos, podemos realizar coisas incríveis. Precisamos uns dos outros. — As crianças aplaudiram de novo.

Após os discursos breves, Lídia propôs uma caminhada coletiva. — Vamos todos andar com o Diego e Sombra pela pista do parque — sugeriu. — Quem tem bicicleta, patins, cadeira de rodas, andador, pode participar. O importante é andarmos juntos. — A ideia foi aceita imediatamente. Crianças montaram em suas bicicletas, algumas com rodinhas; outras calçaram patins; duas crianças trouxeram seus skateboards. Havia um menino com muletas, uma senhora com bengala. Todos queriam participar. A pista era circular, arborizada, com trechos de sol e sombra. Formamos uma fila heterogênea, colorida, com risos e ansiedade. Diego posicionou-se à frente, ao lado de Sombra. Lídia estava com um apito para dar a largada simbólica. — Prontos? — perguntou. Todos gritaram “Sim!”. O apito soou. E lá fomos nós.

A sensação de ver a cena de trás era indescritível. A cadeira motorizada avançando ao lado de um pastor alemão, seguida por crianças de bicicleta, adultos caminhando, jovens de patins. Era como um desfile de inclusão e amizade. Olhei para Carlos e ele me segurou a mão, apertando-a com força. Ele também estava emocionado. Diego olhava para a frente, concentrado, mas sorria de vez em quando quando algum amigo passava a seu lado e dizia “Ei!”. Sombra caminhava como um rei, cabeça alta, rabo balançando. Bolt tentava acompanhá-lo, às vezes se atrapalhava com suas patas grandes, e as crianças riam. A cada curva, a cada árvore, eu sentia que o parque, que já tinha tantas memórias nossas, ganhava mais uma. E das importantes.

Depois de completar a volta, paramos no gramado para um piquenique. As crianças correram para os cobertores, pegaram sucos e bolos. Diego desligou a cadeira e se sentou no chão, com Sombra deitando-se ao lado e apoiando a cabeça em seu colo. Eu me sentei ao lado dele. Olhei para a grama verde, para o céu azul, para as pessoas felizes, e pensei em quantas fases já vivemos naquele parque. Contei: o primeiro balão de Sombra, a primeira letra escrita por Diego, o primeiro “mamãe”, a primeira cadeira motorizada, o primeiro passeio. E agora, o primeiro dia em que andamos juntos. O parque era testemunha de nossa história.

Durante o piquenique, as crianças começaram a brincar de contar sonhos. Lídia sugeriu: — Vamos dizer em voz alta (ou por escrito) um sonho que vocês têm. — Uma menina levantou a mão: — Quero aprender a tocar violão — disse. Um menino escreveu em um papel: “Quero ir à Disney”. Outra criança falou: — Quero que minha avó fique boa. — Diego pegou o tablet. Pensou, escrevendo devagar: “Quero andar no shopping sozinho”. As crianças aplaudiram. Uma de bicicleta gritou: — Você vai! — Eu o abracei. Senti que cada sonho compartilhado ali era regado com esperança.

Depois do piquenique, Clara organizou uma atividade com os cães. Ela pediu para as crianças se sentarem em círculo. Colocou Sombra e Bolt no centro. — Vamos mostrar como eles nos ajudam — explicou. Demonstrou comandos básicos, como “sentar”, “deitar”, “ficar”. Mostrou como Sombra empurrava uma bola com o focinho para Diego pegar com a cadeira. Mostrou como ele pegava objetos com a boca e trazia. As crianças observavam fascinadas. Lídia então falou sobre paciência, treinamento, e como o curso que fiz permitiu ensinar Sombra com amor. — Não é magia — disse. — É dedicação. — Lourdes contou que também havia começado um curso para ajudar Bolt a ser mais confiante. — E vocês podem ensinar seus animais, se tiverem, com carinho e respeito — completou. Senti orgulho de ver como o conhecimento se espalhava. Ao final, Clara convidou as crianças a acariciar Sombra e Bolt, lembrando-lhes de pedir permissão. Foi uma cena linda: pequenas mãos acariciando, rabos abanando, risos.

À medida que o sol começava a se esconder atrás das árvores, as pessoas começaram a se despedir. Uma a uma, famílias pegavam bicicletas, patins, bolsas. Lourdes se aproximou. — Eu nunca me canso de ver vocês — disse. — Obrigada por nos inspirar. — Abraçou-nos. Dona Helena entregou um pote de brownies restantes para levar para casa. As crianças abraçaram Diego e Sombra. Lídia fez um último discurso rápido: — Que este seja apenas o primeiro de muitos dias em que andaremos juntos — afirmou. Concordei. Deixamos o parque com o coração cheio. Os pés (ou rodas) cansados, mas a alma leve.

Na volta, o percurso pareceu mais rápido. Talvez porque sabíamos que podíamos. Talvez porque o sonho havia sido realizado. À noite, em casa, sentamos no sofá para relembrar. Diego escreveu no tablet: “Foi o melhor dia.”. Eu ri. — Não foi o último — respondi. — Você já tem planos para amanhã? — Ele respondeu: “Quero andar no shopping.”. Carlos, entrando na sala, ouviu e disse: — Vamos pesquisar horários tranquilos e planejar. — Sombra, deitado aos nossos pés, levantou a cabeça, como se entendesse que outra aventura estava por vir. Sua respiração profunda nos acalmava. Era o som de um coração que sempre acompanha.

Depois que Diego foi dormir, voltei para a sala. Sentei-me sozinha, com o tablet no colo. Olhei para a foto que tirara no parque, com todos andando juntos. Pensei em tudo que passamos. Em cada capítulo dessa história. No balão, no jornal, no certificado, no medallón, no sorteio, na cadeira motorizada. Tudo parecia tão improvável quando começou. E, no entanto, aqui estávamos. Pensei no tema da inclusão. Em como o “Dia que Andamos Juntos” não era só sobre Diego e Sombra. Era sobre todos. Sobre as crianças com bicicletas e patins, sobre o menino com muletas, sobre a senhora com bengala, sobre a família com Bolt, sobre a comunidade inteira. Era sobre a sociedade dando passos ao lado de quem mais precisa. Era sobre andar junto, literalmente e metaforicamente.

Escrevi uma mensagem rápida no grupo de pais da escola: “Hoje, vimos que sonhos se realizam quando compartilhados. Obrigada por caminhar conosco.” Recebi vários corações de volta. Fui dormir com a sensação de que, embora houvesse dias difíceis pela frente, havia também muita estrada para trilhar. Estrada que, agora, poderíamos percorrer juntos. E dormi com a certeza de que o próximo sonho estava à espera de ser sonhado. Porque, quando andamos juntos, a coragem se multiplica. E, como Diego escreveu em seu caderno de memórias: “Quando ando com Sombra, não tenho medo de cair. Porque sei que ele está ao meu lado.”

 

Capítulo 97 - O Último Uivo de Amor

Anos depois, Diego volta à árvore de Sombra e descobre que alguns amores nunca morrem — só mudam de forma. Capítulo 97 - O Último Uivo de Am...