Pai pede desculpas por tudo que errou; emoção toma conta de Diego, mamãe e Sombra em um instante de amor e perdão.
Capítulo 93 - O Pai Que Pediu Desculpas
O silêncio da sala
Eu, Sombra, estava deitado aos pés de Diego enquanto os últimos raios de sol se despediam pela janela da sala. O jantar já tinha acontecido horas antes e, agora, pairava um silêncio profundo por todo o lar. Cheirava a alho, arroz e feijão – resquícios da refeição ainda perfumavam o ar misturados ao odor suave dos panos de prato. Mamãe lia um livro no sofá, abraçada a Diego, que apoiava a cabeça em seu colo. Àquela altura da noite, só o tic-tac do relógio antigo ousava interromper o silêncio.
Levantei o focinho quando papai entrou devagar, segurando uma caneca de café na mão. Ele parou perto da porta, ajeitando a gola da camisa enquanto nos observava. Seus olhos encontraram os de mamãe e os de Diego, que retribuíram com um sorriso tímido. O peito do papai subia e descia acelerado, como se ele reunisse forças para falar. Eu senti o cheiro forte do aftershave misturado ao café amargo que ainda pingava na caneca. Algo em seu olhar me disse que aquela noite guardava um momento muito especial. Papai deu uma volta pelo ambiente, procurando coragem antes de nos chamar para perto.
As palavras do pai
— Eu… preciso pedir desculpas a vocês — começou ele, a voz trêmula. Engoliu em seco, limpando as mãos úmidas na calça. Um nó apertou meu peito canino ao ouvir o papai lutar para falar. — Sei que não fui o marido nem o pai que vocês mereciam — disse ele, fitando mamãe e depois Diego. Mamãe apertou as mãos dele, encorajadora, e papai prosseguiu: — Andei longe demais do que importa. Desculpem-me por isso.
Os olhos de papai estavam marejados quando ele olhou para mamãe e, em seguida, para Diego, segurando firme as mãos de cada um. — E a você, mamãe… — respirou fundo —, eu peço perdão do fundo do meu coração. Desculpe por tantas noites em que você precisou de mim e eu não soube ouvir, por ter me fechado nas minhas próprias frustrações. Quis proteger a família, mas acabei afastando quem eu mais amo. Você carregou tudo sozinha por tempo demais — confessou ele, num sussurro dolorido.
Diego se aproximou um pouco mais e apoiou uma mão no joelho do papai. Papai então voltou-se para o filho e continuou: — E você, meu menino, me desculpe também. Pensei que nunca seria capaz de entender o seu mundo, mas percebo agora que estava errado. Desculpe por ter ficado triste quando você chorava, por ter duvidado que você venceria cada obstáculo. Você sempre me ensinou, no seu silêncio, o que é ter coragem. Quero aprender com você. — Passou a mão trêmula pelo ombro de Diego —. Estou aqui, Diego. Eu entendi, e quero ser o seu melhor amigo também.
O perdão e a esperança
Mamãe não segurava mais as lágrimas. Ela ergueu-se devagar e envolveu papai num abraço apertado, repetindo baixinho: — Nós te perdoamos, meu amor. Papai desabou naquele abraço, finalmente deixando cair o muro que construíra ao redor de si mesmo. Diego abriu um sorriso silencioso e me puxou para o círculo, espalhando as quatro patas sobre os joelhos de todos. Eu me enfiei no meio, esfregando o focinho nas mãos do papai, sentindo o calor da reconciliação tomar conta de nós. Aquela família, que tanto sofreu, enfim se sentiu inteira de novo.
Papai então retirou uma das mãos de mamãe e, com ela, acariciou minha cabeça. — Obrigado, Sombra — ele murmurou, ainda embargado —, por nos ajudar a levantar quando estávamos tristes. Obrigado por cada lambeijo que nos deu quando ninguém mais sabia o que fazer. — Eu senti um arrepio feliz percorrer o corpo quando ele disse aquelas palavras. Deitei a cabeça no colo do papai, fechando os olhos de alegria. Mamãe enxugou o rosto com o dorso da mão, sorrindo através das lágrimas. Diego segurou firme a mão do papai, sorrindo sem palavras. Eu deitei no colo do papai, sentindo que tudo ficaria bem dali em diante.
Nos dias que se seguiram, aquela noite ecoou de luz em nosso lar. Papai decidiu mudar de verdade. Ele me contou que se inscreveu num curso de adestrador de cães online, desejando compreender melhor a minha língua silenciosa e aprender novas formas de ajudar o Diego. Chegava em casa todo animado para compartilhar comigo o que aprendera: comandos para me ensinar truques e métodos que podíamos usar nas nossas terapias juntos. Mamãe ria de cada nova habilidade que ele aprendia e explicava, e a casa parecia ganhar cores mais vivas a cada dia.
Com o passar das semanas, o lar antes mergulhado em ansiedade transformou-se num lugar de paz. Papai chegava mais cedo, ansioso para ouvir como foi o dia de cada um. Mamãe sorria com mais frequência e compartilhava seus desafios sem pressa. Diego sentia no ar que tudo tinha mudado para melhor; ele experimentava o mundo de novo com confiança renovada. E eu, Sombra, ao deitar a cabeça no colo do papai à noite, percebia que nosso amor havia se tornado ainda mais forte. O pedido de desculpas dele curou uma ferida muito profunda em nossos corações. A família inteira se sentia mais unida e o futuro parecia mais brilhante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário