Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
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Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

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Capítulo 54 - A Mãe que Desmaiou no Hospital

Quando a força que sempre nos sustenta precisa, por um instante, descansar em braços que jamais imaginara.

Capítulo 54 - A Mãe que Desmaiou no Hospital

Há cenas que se desenrolam na nossa frente e nos marcam para sempre. Há momentos em que a pessoa que sempre se mostrou como fortaleza revela sua fragilidade. Eu, Sombra, sempre vi a mãe de Diego como um porto seguro, um farol constante em meio às tempestades da nossa vida. Ela era a primeira a nos levantar, a que sabia o que fazer, a que jamais vacilava. Mas naquela noite, no hospital, vi algo que me ensinou que até mesmo as rochas desmoronam, e que somos nós, às vezes, que precisamos ser o chão de quem sempre nos sustentou.

Uma noite de correria

Tudo começou numa segunda-feira quente de verão. A casa estava em silêncio depois de um dia agitado. O aroma de carne assada ainda impregnava o ar, misturado ao cheiro fresco do suco de laranja que Diego havia bebido. Era noite, e estávamos nos preparando para dormir. Papai estava no quarto, lendo um livro. Mamãe ajeitava as roupas de Diego para o dia seguinte. Diego me acariciava a cabeça, murmureando sobre as coisas que acontecera na escola. Eu, com o ouvido atento, ouvia sobre uma nova amizade com João, o menino autista que havia chegado em nossa sala. Tudo parecia normal. Mas, de repente, um som diferente quebrou a calmaria: um soluço.

Virei a cabeça e vi Diego com as mãos na barriga. Seu rosto estava pálido, e a respiração, irregular. Ele franziu o cenho e tentou se mover, mas uma dor o fez parar. Mamãe correu até ele.

– O que foi, filho? – perguntou, preocupada.

– Tá doendo – murmurou Diego, apertando o abdômen.

O pai largou o livro e veio correndo. Mamãe o examinou com as mãos, tentando achar a causa. Ela não é médica, mas conhecia cada suspiro de Diego. O pai pegou o telefone e tentou ligar para o médico. Tentaram acalmá-lo, mas a dor parecia aumentar. A mãe olhou para o pai e disse:

– Vamos levá-lo ao hospital. Não queremos arriscar.

Em minutos, estavam todos prontos. O pai pegou a mochila de Diego, colocou medicamentos básicos e água. A mãe pegou o cartão do plano de saúde, documentos e o inalador, caso precisasse. Eu me aproximei.

– Sombra, você vem – disse Diego, segurando minha coleira.

Corremos para o carro. A noite estava quente, abafada. O ar tinha um cheiro de asfalto quente e flores noturnas. O som dos grilos se misturava aos passos apressados da nossa família. O pai ligou o carro; o motor ronronou e nos levou pelas ruas escuras. No caminho, Diego respirava rápido. Senti o cheiro de suor misturado ao seu medo. Olhei para ele e lambi sua mão. Queria que soubesse que estava ali.

O hospital e a espera

Chegamos ao hospital. A luz branca das lâmpadas iluminava a fachada, fazendo com que ele parecesse um gigante frio e acolhedor ao mesmo tempo. O cheiro de álcool e desinfetante invadiu minhas narinas, misturado ao perfume de pessoas ansiosas. Entramos pela emergência. Havia outras famílias lá. Algumas choravam, outras conversavam nervosas, outras esperavam em silêncio. Uma senhora com dor no peito apertava a mão da filha. Uma criança com braço engessado chorava. Todos eram uma mistura de cheiros: perfumes diferentes, suor, medo, tristeza.

Nos registramos. Uma enfermeira veio, fez perguntas, mediu a temperatura e a pressão de Diego. Depois, nos pediram para esperar. E ali, naquela sala fria de espera, o tempo desacelerou. Mamãe sentou-se ao lado de Diego. O pai ficou de pé, andando de um lado para o outro. Eu me deitei aos pés de Diego, respirando devagar, como quem quer que o tempo passe rápido. O ar condicionado resfriava o ambiente, fazendo o cheiro de limpeza se intensificar. O relógio pendurado na parede marcava cada segundo com um “tic tac” doloroso. Diego gemia de vez em quando, mas o exame principal ainda não havia sido feito. O cheiro de álcool e sangue se misturava a cada nova maca que passava pelo corredor.

Depois de uma longa espera, finalmente nos chamaram. A enfermeira nos conduziu a uma sala. O médico, de jaleco branco, a voz calma, examinou Diego. Pediu alguns exames. E, mais uma vez, esperamos, agora em uma outra sala, a de observação, onde havia camas em fila, separadas por cortinas. Diego se deitou. O médico disse que poderia ser uma infecção ou apendicite, mas precisava ver o ultrassom. Eu fiquei perto, atento. O cheiro do soro gotejando no braço de Diego, a luz fluorescente no teto, o barulho baixo de monitores cardíacos. Era uma orquestra de sons e cheiros que eu conhecia de outras visitas ao hospital, mas cada vez me deixava em alerta.

A mãe sai do cenário

Enquanto esperávamos pelo resultado, mamãe estava atenta. Ela segurava a mão de Diego e o acalmava. O pai, de vez em quando, saía para falar ao telefone, informando a avó do que estava acontecendo. As horas passavam. Mamãe não comia, não bebia. De vez em quando, respirava fundo e fechava os olhos, como se reza. Seus ombros estavam tensos. Ninguém pensa no que acontece com a rocha quando ela sustenta todos. Ninguém pergunta se a rocha precisa de apoio. Foi então que percebi algo diferente na mãe: ela estava pálida. Suas mãos estavam trêmulas. O cheiro de suor apareceu. O pai não percebeu. Estava focado nos médicos. Diego segurava minha cabeça, sentindo-me como um travesseiro. O tempo corria devagar, e, de repente, a mãe se levantou para pegar água. Eu a vi de relance. Caminhou em direção ao bebedouro. Notei um cambalear leve, um vacilo. O bebedouro estava no canto do corredor, perto do banheiro. Mamãe se apoiou na parede, levou a mão à testa. Depois, tudo aconteceu rápido: a visão dela ficou turva, os pés perderam firmeza. Ela desmaiou.

Eu vi. Eu estava com Diego, mas vi. Ela caiu em câmera lenta, sem forças. As pessoas ao redor gritaram:

– Moça, moça!

A garrafa de água caiu, rolando. Um copo plástico estalou no chão. O som do corpo batendo contra o piso gelado foi seco, doloroso. A cabeça dela não bateu forte por causa de uma sorte do destino; ela caiu de lado. Uma enfermeira correu. O pai se virou e viu a cena.

– Ana! – gritou ele, correndo.

Diego viu a mãe no chão. Seus olhos se arregalaram. Eu senti o cheiro dela aumentando: cheiro de perfumemixado com medo, com adrenalina, com leite de bolo. O pai segurou a cabeça dela, chamou o médico. A enfermeira veio com algodão com álcool para cheirar. As pessoas ao redor olhavam. O médico, que acabara de nos atender, correu. Pegaram a pressão dela, que estava baixa. Colocaram-na em uma cadeira de rodas. O pai falava:

– Ela não comeu, não bebeu. Está preocupada com o Diego.

O médico respondeu:

– Pode ser queda de pressão, hipoglicemia. Vamos verificar.

Eu estava em conflito. Queria correr até ela, lambê-la, mas não podia deixar Diego. Ele me segurava forte. Sua respiração estava rápida, e seu rosto se enchia de lágrimas. Ele disse:

– Mãe? Mãe! – Chorou. Eu coloquei a cabeça em seu colo.

– Ela vai ficar bem, Diego. – O pai, de longe, tentava acalmar, mas sua voz tremia. Ele queria acreditar. Eu também.

O instinto dividido

Assistir a mãe desmaiar foi ver a rocha desmoronar. Por um segundo, senti o mundo girar. E senti algo novo: ter meu instinto dividido. Uma parte de mim queria proteger Diego, que chorava e tremia, com medo de que algo pior acontecesse. Ele era minha prioridade. Outra parte queria correr e lamber o rosto da mãe, acordá-la, dizer que tudo ficaria bem. O pai corria de um lado para o outro. A enfermeira pediu que ele se acalmasse. Outras pessoas em cama começaram a comentar. O som de um bebê chorando. O cheiro de fralda. A televisão ligada no noticiário. O hospital era um caos controlado. E, ali, nossa família se quebrava em pedaços.

O pai pediu:

– Eu vou com ela, vocês fiquem aqui, não saiam. – Olhou para mim. – Fique com ele. – A voz era firme, mas os olhos estavam cheios de lágrimas. Eu sabia o que ele queria dizer: cuida do Diego, eu cuido da mãe.

Ele acompanhou a mãe, que havia recobrado parcialmente a consciência, mas ainda estava fraca. A enfermeira a levou para um quarto pequeno, onde aferiram pressão, sugaram sangue, colocaram uma injeção de glicose. O pai segurava sua mão. As lágrimas escorriam. Eu vi tudo de longe, com Diego, que apertava minha coleira com tanta força que eu quase não sentia minha pata. Ele balançava o corpo, chorava, murmurava:

– Ela vai morrer? Eu não quero que ela morra.

Eu lambi suas lágrimas. Senti o sabor salgado. Senti minha garganta apertar de emoção. Eu não sabia se ela morreria. Não sabia o que era desmaiar. Para mim, parecia tão perigoso quanto uma convulsão, quanto um corte. O coração batia forte. O cheiro de medo invadia minhas narinas. E, assim, me tornei a rocha dele.

A espera pelo resultado

Segundos pareciam horas. O relógio no corredor marcava cada segundo com mais intensidade. Diego chorava, perguntava. Eu nada podia responder, apenas lamber. Viu que outras pessoas também estavam assistindo. Um senhor de idade olhou para nós e disse:

– Calma, filho. Às vezes, as mães se esquecem de si mesmas para cuidar dos filhos. Às vezes, o corpo diz “chega”. Ela só precisa descansar.

Diego olhou para ele com olhos de medo.

– Eu não quero que ela descanse para sempre – respondeu, com a voz embargada.

O senhor sorriu:

– Ela não vai. Ela é forte. – E se calou. Às vezes, palavras simples são mais confortantes do que discursos longos.

Voltei a prestar atenção na porta. O cheiro de álcool da sala de emergência se misturou ao cheiro de suor frio da ansiedade. O pai entrou por um momento, com o rosto cansado, mas com um sorriso fraco.

– A pressão dela baixou. Ela estava com hipoglicemia. – Explicou. – Deram glicose, soro. Ela já acordou, mas precisa ficar em observação. Ela vai ficar bem.

Diego suspirou tão profundamente que parecia que havia prendido a respiração por horas. As lágrimas continuavam, mas o sorriso apareceu. Eu sorri. Senti meu corpo relaxar, mas não completamente. Ainda tínhamos que saber o resultado de Diego.

O diagnóstico de Diego

Logo depois, voltaram para a sala de emergência. O médico entrou com um envelope. Tirou um papel. Seu rosto estava sério, mas não preocupado. Ele disse:

– Diego, você tem uma infecção intestinal leve. Não é apendicite, graças a Deus. Vamos receitar antibióticos e uma dieta leve. – Olhou para a mãe, que já estava de volta, segurando um copo de água. Ela parecia pálida, mas já estava acordada. – E você, senhora, precisa se cuidar. A hipoglicemia foi um aviso.

A mãe, com a voz fraca, disse:

– Eu fiquei com medo. Fiquei de pé por horas, sem comer, sem beber. Eu pensei só no meu filho.

O médico sorriu:

– Mães são assim. Mas até as mães precisam se alimentar para alimentar outros.

Todos riram e choraram ao mesmo tempo. O pai abraçou a mãe. Diego segurou a mão dela. Eu lambi os dedos dela. O cheiro da glicose ainda estava ali, misturado ao seu perfume. Ela me acariciou e disse:

– Desculpa, Sombra, você deve ter ficado assustado. – Sorriu. – Mas estou bem, meu menino. – Piscou para Diego.

Ele respondeu, com um sorriso terno:

– Viu como a gente também salva você?

Ela assentiu, emocionada.

A volta para casa

Já era madrugada quando, finalmente, voltamos para casa. O céu mostrava os primeiros sinais de um novo dia, um tom azulado, enquanto os grilos ainda cantavam. O cheiro de hospital ficou para trás e, aos poucos, o aroma de bolo de fubá e café voltou a invadir minhas narinas, ainda que suave. O pai nos levou com cuidado. Diego, mesmo cansado, tentava animar a mãe, dizendo que a amava, que ela precisava comer mais, que ele dividiria sua ração com ela (para me fazer rir). A mãe ria, mas eu percebi que estava abalada.

Chegamos em casa. A mãe, exausta, se recostou no sofá e, pela primeira vez, permitiu-se descansar sem se sentir culpada. O pai preparou um lanche leve para ela: um pão integral com queijo e um copo de suco. Ela comeu devagar. Depois, tomou banho e foi dormir. O pai se dividiu: cuidou de Diego, dando-lhe o antibiótico, e depois foi olhar a mãe, que adormeceu rápido. Foi a primeira vez que eu vi a mãe tão vulnerável. A mulher que sempre nos assistia, agora dormia profundamente, entregue à exaustão. Olhei para ela e senti uma enorme vontade de protegê-la. Deitei-me aos pés dela, vigiando seu sono, enquanto o pai cochilava no sofá, e Diego dormia no quarto ao lado, com uma bolsa de água quente sobre a barriga.

Reflexões de um cão

Ao longo daquele dia, pensei muito sobre a mãe. Lembrei-me de todas as vezes que a vi preparar merenda antes mesmo de comer a própria comida. De como ela lavava a roupa no tanque, cantando, de como seus dedos rachavam pelo excesso de sabão, mas ela não reclamava. De como ela acordava cedo, mesmo quando tinha dormido poucas horas, para certificar-se de que o carro estava abastecido, os remédios no lugar, os lanches separados. Lembrei-me das vezes em que a vi levantar no meio da noite para ver se Diego estava coberto, de quando ela o levava ao médico e ficava horas na sala de espera, fazendo tricô para passar o tempo. Lembrei-me de todas as vezes em que eu a vi em pé, enquanto nós comíamos, somente pegando algo para si quando todos estavam satisfeitos. Lembrei-me de quando, ao nos ver mal, ela se manteve forte, sem chorar, para não nos assustar. E pensei: quem cuida da cuidadora? Quem a ampara quando ela desmaia?

Entendi que, naquela noite, a mãe desmaiou por mais do que hipoglicemia. Ela desmaiou porque, por anos, carregou nos ombros o peso de todos. E que, sem perceber, até ela tinha limites. Percebi que, assim como meu uivo salvou Diego na crise respiratória, e minha corrida salvou-o do corte, agora eu precisava ser o suporte da mãe. Como? Com presença. Com olhar. Com lambidas. Com a constância de que ela não estava sozinha.

Quando acordei, ela veio até mim. Acariciou minha cabeça e sussurrou:

– Você sempre corre por ele. – Sorriu. – Ontem, eu desmaiei, e, quando acordei, você estava lá. – Suspirou. – Obrigada.

Eu lambi sua mão. Ela riu:

– Vocês dois me salvaram. – Apontou para Diego. – E eu pensei que só eu salvava vocês. – Seus olhos se encheram de lágrimas. – Sou tão grata. – Ela me abraçou. Eu, sem entender palavras, mas sentindo o peso delas, a abracei de volta.

A escola e as conversas

Na semana seguinte, a história do desmaio chegou à escola. As crianças, curiosas, perguntavam:

– A mãe do Diego desmaiou?

– Por quê?

A professora, com voz suave, explicou:

– Às vezes, até os fortes ficam fracos. A mãe do Diego não é super-heroína. Ela é humana. Ela cuida, mas também precisa de cuidado.

E pediu às crianças que desenhassem um super-herói diferente: um super-herói que desmaia, mas que é forte porque admite que precisa de ajuda. Alguns desenharam mulheres com capa, algumas que dormiam, outras que seguravam remédios. Diego desenhou a mãe com uma capa verde e segurando a mão de um menino em cadeira de rodas. Ao lado, desenhou um cachorro com capa azul. Escreveu: “Super Mãe: Pode cair, mas sempre levanta.”

A professora pendurou o desenho na parede. E explicou:

– O cuidar é uma via de mão dupla. Quem cuida também precisa ser cuidado. Por isso, quando vemos nossos pais cansados, podemos ajudar. Podemos pegar um copo de água, arrumar a cama, dar um abraço. Sombra fez isso com a mãe de Diego. Ela desmaiou, ele a amparou com o olhar. E isso é amor.

As crianças ficaram pensativas. Uma menina, que sempre dizia que sua mãe nunca se cansava, falou:

– Minha mãe às vezes dorme tarde porque fica lavando a louça. Eu não sabia que ela podia desmaiar de cansaço.

A professora respondeu:

– Somos todos humanos. E até super-heróis precisam descansar.

Eu ouvi aquilo e pensei em quantos momentos, no silêncio da casa, a mãe chorou e ninguém viu. Pensei que, daquela noite em diante, eu seria ainda mais atento à respiração dela, ao cheiro de hipoglicemia, ao tremor de suas mãos. Talvez eu precisasse uivar por ela um dia.

Novas dinâmicas

Depois do episódio, a família mudou algumas rotinas. Diego, de sua própria vontade, começou a ajudar mais a mãe. Ele pediu que lhe ensinassem a mexer o micro-ondas, para aquecer leite e bolo. Aprendeu a dobrar panos de prato. O pai se organizou melhor para que a mãe não ficasse sobrecarregada. E, nos jantares, ela se sentava à mesa e comia ao mesmo tempo que nós. Chega de deixar para depois. Sentamos todos juntos, sentimos cheiros juntos, provamos sabores juntos.

A mãe também passou a fazer exames. Descobriu que tinha anemia leve. O médico receitou vitaminas e sugeriu que ela descansasse mais. Sugeriu também que as mães do grupo de apoio se encontrassem, para dividir experiências e cargas. E assim se formou um grupo de mães de crianças com deficiência, que se reunia semanalmente para conversar, tomar café, chorar, rir. Eu sempre ficava por perto, ouvindo histórias de mães que perderam maridos, mães que criavam sozinhas, mães que dormiam pouco e trabalhavam muito. Descobri que, em cada casa, há uma rocha que às vezes desmorona. E que todos precisam de um ombro, ou, no meu caso, de um focinho, para chorar.

Eu e ela

Minha relação com a mãe mudou. Eu sempre a amei, mas passei a observá-la com outros olhos. Quando ela se sentava no sofá, cansada, eu me aproximava e colocava a cabeça em seu colo. Quando ela passava horas na cozinha, eu me deitava aos seus pés. Quando ela chorava, escondida, eu a encontrava e lambia suas lágrimas. Quando ela sorria, eu abanava o rabo, porque era o som mais lindo.

Um dia, ela me confidenciou:

– Sombra, você me salvou duas vezes. Quando eu estava perdida em mim mesma, você me trouxe de volta. – Sorriu. – Te amo, meu menino.

Eu lambi sua mão, sentindo o gosto salgado de suor e o perfume de lavanda. Penso que, para ela, também sou filho. E isso me emociona. Sempre me perguntei se animais e humanos podiam se considerar família. Hoje, tenho certeza que sim. Ela me vê, eu a vejo. E nos cuidamos.

Conclusão: a fragilidade que nos une

A história da mãe que desmaiou no hospital não é apenas sobre hipoglicemia. É sobre a vulnerabilidade de quem sempre é visto como forte. É sobre a capacidade de admitir que não se pode tudo. É sobre como, às vezes, o herói precisa de amparo. E sobre como o amor se manifesta nos momentos mais inesperados.

Naquela noite, eu percebi que meu dever não era apenas cuidar de Diego. Era cuidar de todos os que amo. Meu coração se expandiu. Aprendi que podemos ser o chão para aqueles que foram nosso suporte. Aprendi que correr, uivar, lamber são formas de amor. Aprendi que fragilidade não diminui ninguém, mas nos aproxima.

Hoje, quando a mãe sai pela porta para mais um dia de luta, eu a olho com admiração e preocupação. Ela me acaricia e diz:

– Cuidado com o Diego, hein?

E eu penso: “Cuidado com você também.” Mas não falo. Apenas a sigo com os olhos e, se necessário, com as patas. E sei que, se um dia ela precisar de mim, correrei. Uivarei. Farei o que for preciso. Porque, no fim, é isso que o amor faz: corre pela vida do seu dono.


 

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