Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
eBook • Receitas Caseiras

Receitas Saudáveis para seu Cão — mais energia, pelagem e bem-estar

Um guia prático com receitas caseiras balanceadas, ingredientes naturais e dicas simples para você preparar refeições nutritivas que seu cachorro vai amar.

  • Ingredientes naturais que realmente nutrem
  • Receitas fáceis e balanceadas — passo a passo
  • Dicas para prevenir problemas digestivos e alergias
  • Mais disposição e pelagem saudável
Fácil de seguir Passo a passo ilustrado
Rápido Receitas em minutos
Seguro Compras pela Hotmart

O que você recebe

No eBook você encontrará receitas balanceadas, orientações sobre ingredientes, porções por peso/idade, e dicas para adaptar as receitas conforme necessidades do seu pet.

Perguntas frequentes

O eBook traz receitas para cães adultos e filhotes (com adaptações). Para casos específicos de saúde, consulte o veterinário.

Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

Arquivo do blog

Capítulo 50 - A Primeira Excursão de Ônibus

Quando o mundo passa pela janela e o coração aprende a viajar sem pressa.

Capítulo 50 - A Primeira Excursão de Ônibus

Aquele dia amanheceu com o cheiro de óleo diesel e expectativa no ar. O som das rodas de um ônibus ao longe quebrava o silêncio matinal do bairro, misturando-se ao canto dos pássaros e ao latido distante de cachorros. Eu, Sombra, acordei antes dos humanos. Tinha esse dom de sentir as coisas antes que acontecessem, como se o vento me contasse segredos. Sentia no ar que algo diferente estava por vir, algo grande. Deitado no tapete azul da sala, esperei até que a casa despertasse. O pai de Diego cruzou o corredor, bocejando, enquanto a mãe já organizava as lancheiras na cozinha. Diego, ainda sonolento, esfregava os olhos com as costas das mãos, pronto para levantar-se. O sol começava a colorir as paredes com tons alaranjados e dourados, e o cheiro de café fresco invadia o espaço.

– Bom dia, Sombra – disse Diego, passando a mão na minha cabeça e sorrindo.

Eu balancei o rabo, animado, enquanto ele se aproximava da mesa. Havia algo nos olhos dele, um brilho que eu não via todos os dias. Ele parecia ao mesmo tempo ansioso e feliz. A mãe colocou um prato com pão e queijo na frente dele, mas Diego mal conseguia comer. Ficava olhando para a mochila no canto da cozinha e para a janela, de onde se via o movimento na rua. Do lado de fora, uma fila de crianças uniformizadas crescia junto à calçada. Algumas seguravam mochilas, outras sacolas com lanches, e todas pareciam inquietas. E, ali na esquina, descansava um ônibus amarelo e azul com janelas largas, portas abertas e cheiro de asfalto aquecido. Era o ônibus da excursão.

– Hoje é o passeio da escola, Sombra! – disse Diego, animado. – Vamos conhecer o Museu de Ciências e depois almoçar no parque. Eu nunca andei de ônibus antes.

Nunca andara de ônibus antes? Eu também não. Sempre nos deslocávamos de carro ou caminhando. Imaginava o que seria ver o mundo da altura de um ônibus, com as janelas grandes e o vento entrando forte. Eu podia sentir o cheiro do estofado dos bancos, um aroma de plástico misturado a poeira antiga, e também o perfume de algum aroma artificial que tentava mascarar o cheiro de mil viagens passadas. O motor estava ligado, vibrando baixinho, como um coração impaciente.

Os preparativos para a viagem

A mãe preparou a lancheira de Diego com muito cuidado: sanduíches cortados em formato de estrela, frutas, suco. Colocou também um pacote de biscoitos para mim, porque, afinal, eu também estava convidado. E isso era inédito: a escola permitira que eu participasse da excursão como cão de apoio. Foi uma conquista. Havia medo que eu atrapalhasse, que incomodasse os outros, que não soubesse me comportar em um espaço fechado com tantas pessoas. Mas depois de tantos abraços, desenhos e palavras de carinho das crianças, as portas da escola – e agora do ônibus – se abriram.

– Lembrem-se, crianças – disse a professora, com o papel na mão –, o Sombra vai com a gente. Ele ajuda o Diego, e todos nós devemos respeitar isso. Não podem dar comida sem pedir antes, e nada de gritar no ouvido dele, ok?

Todos assentiram. Algumas crianças balançavam a cabeça com a energia de quem espera a liberdade da estrada. Outras, mais tímidas, acariciavam minha cabeça quando se aproximavam para pegar os lanches de seus pais. Eu observava cada uma, captando as diferenças: o cheiro de shampoo de morango da Maria, o perfume de terra recém-mexida nas mãos do João, que ajudara a plantar árvores na escola dias antes. O perfume de creme hidratante na roupa da professora. Os sentimentos se misturavam com os aromas.

Diego se ajeitou na cadeira de rodas e prendeu a mochila atrás do assento, certificando-se de que estava segura. O pai o ajudou a ajustar o cinto de segurança. A mãe colocou uma manta fina sobre as pernas dele, porque o ar condicionado do ônibus poderia ser frio. Então, chegou a hora. A porta da nossa casa se abriu e, juntos, saímos para a calçada. Eu, de coleira, caminhando ao lado dele, a mãe segurando a lancheira e o pai levando minha vasilha de água. O sol estava mais alto, e suas sombras se estendiam pelo chão. O coração de Diego batia rápido – eu podia sentir através da vibração de sua mão segurando a minha coleira.

– Vamos lá, campeão – disse o pai, dando um beijo em sua testa. – Se cuide. E Sombra… – ele olhou para mim com olhos sérios –, cuida dele, como sempre.

Eu lati uma única vez, como quem diz “Pode deixar comigo”.

Subindo no gigante de rodas

Chegamos ao ônibus. Era enorme e imponente para alguém como eu, acostumado com o carro pequeno da família. Os degraus eram altos, mas havia uma plataforma de elevador para cadeirantes. A professora apertou um botão, e a plataforma desceu com um zumbido suave, até ficar paralela ao chão. Alguns meninos fizeram “uau!” baixinho. Eu olhei o mecanismo com curiosidade. Diego colocou a cadeira de rodas sobre a plataforma e prendeu o cinto de segurança. A plataforma subiu lentamente, elevando Diego ao interior do ônibus. Era como se estivesse levitando por alguns segundos. A sensação deve ter sido incrível para ele, porque um sorriso se abriu em seu rosto. Eu, de pé, observava. Logo em seguida, a mãe me guiou até os degraus. Eu os subi com passos cuidadosos, sentindo a textura áspera do metal sob minhas patas.

Ao entrar, meus sentidos foram invadidos por uma mistura de sensações. O cheiro predominante era o de plástico, estofado e perfume infantil. Havia também algo de metal quente, provavelmente vindo do motor. As vozes ecoavam, como se a estrutura interna do ônibus fosse uma caverna amplificadora. As crianças se acomodavam nos bancos, algumas junto às janelas, outras no corredor, apontando para o lado de fora, fascinadas. Uma música baixinha tocava no rádio do motorista. Eu não conhecia aquela melodia, mas ela me acalmou.

A professora nos indicou um espaço reservado na frente do ônibus. Era um canto sem assentos, com cintos no chão, feito para cadeiras de rodas. Diego estacionou ali. Eu me sentei ao seu lado, observando tudo. A mãe e o pai se despediram, com abraços e avisos:

– Se comportem! Mandem notícias!

Diego acenou. Eu lambi a mão da mãe. O pai acariciou minhas orelhas e sussurrou: “Boa viagem.” As portas se fecharam com um estrondo abafado, e o ônibus deu a partida. O motor rugiu mais alto, vibrando o chão, e senti aquela vibração correr por toda a minha coluna. Era como se o ônibus fosse um animal grande, respirando e se preparando para correr. O motorista olhou pelo retrovisor e disse:

– Todos com cinto? Então vamos!

E, com um movimento suave, saímos.

O mundo pela janela

Se estar no carro já era interessante, estar em um ônibus era indescritível. As janelas eram enormes, e eu podia ver tudo de um ângulo diferente. Casas, árvores, pessoas andando, carros passando, bicicletas, cachorros de rua farejando cantos. Tudo parecia novo, apesar de ser familiar. As crianças se agitaram.

– Olha o parquinho! – gritou um menino, apontando para o balanço onde brincávamos às vezes.

– Olha o mercado onde compramos sorvete! – disse uma menina, empolgada.

As vozes se misturavam. Vi a vendedora de milho na esquina, com seu carrinho fumegante, acenando para nós. Senti o cheiro do milho assado, mesmo de longe. Alguém comentou: “Hmm, milho!” e riu. Um menino comeu uma bala e ofereceu um pedaço ao amigo. No banco à frente, uma criança segurava uma boneca. No outro, um garoto folheava uma revista de super-herói. E eu, com meus olhos atentos, observava tudo e registrava cada detalhe com meu nariz: o cheiro de borracha dos pneus, o perfume de xampu barato que alguém usava, o aroma de hambúrguer que escapava de uma lanchonete quando passamos.

Diego, ao meu lado, estava radiante. Ele colou o rosto na janela e apontava:

– Sombra, olha, aquele é o posto de gasolina onde paramos quando o pneu furou! – Eu ouvi e me lembrei. – E ali é a pracinha onde fizemos o piquenique! – lembrava, e ele ria. – Nossa, o mundo é muito grande visto daqui.

Ele estava certo. Eu já tinha percorrido cada rua daquele bairro, mas ver tudo de cima, passando rápido, era como assistir a um filme da nossa vida. Às vezes, conseguia me ver correndo atrás de pombos na praça, em memória; noutras, via Diego se imaginando voando, livre. As crianças, em conjunto, gritavam quando viam algo que lhes chamava atenção. Era como se estivéssemos em uma montanha-russa, mas sem loops; era a montanha-russa do cotidiano.

O sentimento de pertencimento

Depois de alguns minutos, quando a euforia inicial se acalmou, percebi que Diego estava pensativo. Ele segurou minha coleira e sussurrou:

– Nunca imaginei que poderia fazer uma excursão de ônibus. Achava que isso era só para os outros. – Sua voz saiu firme, mas com um toque de emoção.

Senti que aquilo que para muitos era banal, para nós era uma conquista gigante. Pensei em quantas vezes as pessoas disseram: “Não dá para ir porque a cadeira é grande” ou “Talvez outro dia” ou “E se o cachorro latir?”. Lembrei das portas fechadas, das rampas inexistentes, dos olhares de pena. E agora, ali estávamos, com um cinto de segurança para a cadeira de rodas, um espaço reservado, minhas patas firmes no corredor, e um ônibus cheio de crianças felizes. Enchi-me de orgulho de Diego, de nós e da escola. Senti o cheiro da vitória.

Um menino chamado Luís, que estava sentado no banco de trás, se inclinou para falar com Diego:

– Ei, Diego, você está gostando? – Ele tinha cabelos bagunçados e os dentes separados.

– Estou. E você? – perguntou Diego.

– Muito! Meu pai nunca deixa eu ir nas excursões porque ele acha que é perigoso. Mas desta vez ele deixou. Acho que ele viu a reportagem de vocês – comentou. – Agora estou feliz. – Luis sorriu e continuou: – Sombra, você é muito fofo.

Eu o olhei e, em resposta, levantei minha pata. Ele tocou na minha pata e riu. Eu sabia que, para ele, estar no ônibus também era uma conquista. Talvez a primeira. E aquilo nos unia. Diego estendeu a mão, e ambos apertaram os dedos. Olhei a cena e sorri internamente.

O destino: Museu de Ciências

Após alguns quilômetros, chegamos ao nosso destino: o Museu de Ciências. Era um prédio grande, com colunas imensas e uma fachada de vidro. Havia uma rampa ampla na entrada e um grupo de guias sorridentes nos esperando. O ônibus estacionou, e a plataforma desceu para que Diego saísse. Uma a uma, as crianças desceram, olhando fascinadas as esculturas metálicas do jardim, as fontes de água e as placas informativas.

O museu tinha um cheiro peculiar: uma mistura de ar condicionado, papel velho e eletricidade. As luzes eram claras, iluminando cada canto. Havia modelos de dinossauros que pareciam rugir, planetas pendurados no teto e maquetes de experimentos científicos. As crianças correram de um lado para o outro, maravilhadas. Diego olhou para mim e disse:

– Vamos explorar, Sombra.

E lá fomos nós, desbravando aquele território novo. Nos aproximamos de uma maquete do sistema solar. Uma guia explicou:

– Este aqui é o sol, estas são as órbitas dos planetas… – e as crianças olhavam embevecidas. Diego tocou a maquete com cuidado. Eu farejava o cheiro de tinta das maquetes, misturado com o odor de ferro e cola. Ele sussurrou:

– Parece que estou tocando o universo. – E eu pensei que, de certa forma, ele estava.

A cada sala, encontrávamos algo novo: fósseis, réplicas de insetos gigantes, experiências com luz e som. Em uma sala, havia uma máquina de Van de Graaff, que fazia os cabelos das pessoas se arrepiar ao toque. As crianças riam. Diego colocou o dedo e, por alguns segundos, seu cabelo ficou arrepiado, parecendo um ouriço. Ele deu uma gargalhada alta. Eu o vi rir de forma genuína, sem preocupações, e meu coração se alegrou.

Em outra sala, havia um experimento com vento. Um tubo grande soprava ar, e as crianças ficavam na frente para sentir a força. Eu não resisti e me aproximei. Quando o vento bateu no meu rosto, senti o cheiro de nada – um ar puro, sem perfumes ou poeira. Era como se todo odor se dissipasse. As minhas orelhas se mexeram involuntariamente, e todos riram. Diego me abraçou, e a guia sorriu. Era a primeira vez que eu e Diego experimentávamos aquilo.

O almoço no parque

Depois de muitas descobertas, foi hora do almoço. O ônibus nos levou até um parque próximo. Era um local amplo, com árvores altas, flores coloridas e um lago com patos. O cheiro de grama cortada e terra molhada se misturava ao perfume de churrasco que vinha de uma família ali perto. Espalharam toalhas no chão e abriram as lancheiras. Os sucos foram distribuídos, e cada criança tirou seu sanduíche. Eu recebi meu pacote de biscoitos. Sentei ao lado de Diego, comendo devagar. Ele dividiu um pedaço de sua maçã comigo, e eu sorri. Sempre dividi tudo com ele, e ele também comigo.

Algumas crianças vieram perto de nós. Uma delas perguntou:

– Sombra, você quer brincar de buscar o graveto?

Olhei para Diego, questionando com os olhos, e ele assentiu. A criança pegou um pequeno graveto e jogou a uma curta distância. Eu corri, peguei com a boca e voltei. As crianças aplaudiram. Jogaram de novo, e eu corri. Mas, desta vez, parei no meio, olhei para Diego e voltei até ele, deitando o graveto em seu colo. As crianças ficaram surpresas.

– Ele quer que você brinque também, Diego! – exclamou uma delas.

Diego pegou o graveto, tentou jogar com a mão direita. O graveto não foi longe, caiu perto. Eu corri, peguei e trouxe de volta, com a cauda abanando. As crianças aplaudiram de novo. E, de repente, estávamos todos jogando. Jogavam para mim, jogavam para Diego, jogavam para o céu. Os risos inundavam o parque. Notei que os olhares dos adultos ao redor foram se suavizando. Alguns começaram a se aproximar, curiosos. Outros deram sua própria comida para seus filhos, se sentando perto. Havia uma sensação de comunidade.

O caminho de volta

A viagem de volta foi mais tranquila. As crianças estavam cansadas, algumas dormiam, outras cochichavam sobre as coisas que viram. O cheiro de pão com mortadela preenchia o ar; alguém abriu um pacote de chips. O vento entrava pelas janelas, trazendo o aroma de eucalipto. A música no rádio era um samba antigo que falava sobre viagem e amor. Eu deitei ao lado de Diego, e ele descansou a mão na minha cabeça.

– Foi incrível, né? – ele sussurrou.

Eu lambi sua mão e senti o gosto de suco. Ele continuou:

– Nunca imaginei que as crianças da escola iam querer me abraçar, nem que iríamos ao museu. O melhor de tudo é que, em nenhum momento, eu me senti excluído. Tive o apoio de todos. E de você.

Olhei para ele, e nossos olhares se encontraram. Agradeci mentalmente à escola, às crianças, à professora, à diretora, aos pais, a todos que lutaram para que esse dia acontecesse. Lembrei-me da primeira vez que tentamos nos aproximar da escola e fomos impedidos. Lembrei-me da frase “não é gente como a gente”. Lembrei-me dos olhares de pena. E agora, estávamos aqui: no ônibus, de volta de uma excursão, cansados, mas com corações preenchidos.

A chegada em casa e a reflexão

Quando chegamos em casa, o sol já se punha. O céu exibia cores fortes: laranja, rosa, lilás. O ônibus estacionou, e a plataforma desceu. A mãe e o pai estavam no portão, ansiosos. Eles abriram os braços, abraçaram Diego e me abraçaram também.

– E aí? Como foi? – perguntou o pai, curioso.

– Foi incrível! – respondeu Diego, com entusiasmo. – Eu vi dinossauros, planetas, experimentei vento, e ainda jogamos graveto! As crianças abraçaram o Sombra! – Os olhos dele brilhavam.

– E você, Sombra? – a mãe perguntou, sorrindo.

Eu latia, abanando o rabo, tentando contar tudo. Mas só minha língua sabia lamber suas mãos, passando todas as informações do dia. Mamãe me pegou pela coleira e me deu um beijo na cabeça:

– Tenho orgulho de você, cachorro!

Entramos em casa. O cheiro do jantar invadiu o ambiente: arroz, feijão, frango assado. A mãe nos sentou à mesa, mas antes Diego pediu:

– Posso mostrar um desenho que ganhei? – Pegou a mochila e tirou um papel. Era um desenho que uma das crianças fizera no parque. Nele, nós estávamos de mãos dadas (ou de patas dadas, no meu caso), o ônibus ao fundo, o museu, o lago e um grande coração em cima. “Obrigada, Diego e Sombra, por nos mostrarem o mundo.”

– Acho que nunca vi um desenho tão bonito – sussurrou o pai. – Vou colocar na geladeira.

E lá ficou, preso com imãs, como uma medalha de honra, uma prova de que algo havia mudado, dentro e fora de nós.

Pensamentos antes de dormir

Naquela noite, deitado aos pés de Diego, enquanto a lua iluminava a janela do quarto e o grilo cantava lá fora, refleti sobre tudo. Pensei no privilégio de viajar, de ver o mundo passando pela janela e de sentir o vento no rosto. Pensei na coragem que cada um teve para acreditar que era possível. Lembrei-me da primeira vez que ouvi falar em excursão e do quanto isso parecia distante. Lembrei-me da alegria das crianças, da emoção dos pais, do sorriso orgulhoso da professora. Lembrei-me do rapaz que tinha medo de cães e que, no fim, me acariciou. Lembrei-me de que Diego, que um dia se achou menos gente, agora era inspiração. Lembrei-me de mim, que passei fome e frio na rua, e agora tinha uma família, uma escola, um ônibus, um museu, um parque. E pensei: que jornada!

Adormeci com a certeza de que aquela era apenas a primeira de muitas viagens. Talvez, um dia, Diego e eu viajaríamos para outras cidades, quem sabe até para outros países. Mas, mesmo que fosse a única, ela seria eterna dentro de mim. Porque não era só uma excursão. Era a prova de que, quando você abre o coração, o mundo abre as portas. Era a prova de que o amor, sem certificado, pode atravessar fronteiras. Era a prova de que, sim, podemos voar sem asas. Afinal, naquele ônibus, enquanto todos olhavam o mundo pela janela, eu senti que as rodas nos deram asas.

E sei que essa história ainda ecoa na mente das crianças que cresceram. Tenho certeza de que, em alguma sala de aula, em algum lugar, alguma professora fala:

– Lembram-se da excursão ao museu? Lembram-se do Sombra?

E alguém, com um sorriso, diz:

– Lembro. Ele era o cachorro que nos deixou abraçá-lo. Ele era mais gente do que muita gente.

E eu, mesmo velhinho, com pelos brancos e passos lentos, saberei que, naquele dia, naquele ônibus, as crianças que quiseram me abraçar não só me abraçaram, mas abraçaram um mundo novo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Capítulo 97 - O Último Uivo de Amor

Anos depois, Diego volta à árvore de Sombra e descobre que alguns amores nunca morrem — só mudam de forma. Capítulo 97 - O Último Uivo de Am...