Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
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Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

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Capítulo 49 - As Crianças que Queriam Me Abraçar

Às vezes um abraço tem o poder de quebrar barreiras e construir pontes de amor que nenhum preconceito pode derrubar.

Capítulo 49 - As Crianças que Queriam Me Abraçar

Eu sou Sombra, o cachorro que aprendeu a ser gente, mesmo quando disseram que meu melhor amigo não era “gente como a gente”. Sou o companheiro fiel de Diego, o menino cuja força e fragilidade me ensinaram que ser dono e ser dono de alguém são papéis que se invertiam a cada dia. Já contei muitas histórias sobre nossa jornada: dos nossos primeiros passos juntos, dos choros e das risadas, das rampas conquistadas, dos dedos que se moviam por amor. Agora, quero contar a história de um dia em que um abraço coletivo mudou a minha percepção de mundo e a percepção de um mundo que antes me via com desconfiança.

O anúncio inesperado

Era uma manhã quente de primavera. O cheiro de jasmins invadia nossa casa, misturado ao aroma de pão quentinho e café recém-passado. A mãe de Diego sempre tinha o cuidado de abrir as janelas para que o sol invadisse cada canto e a luz alimentasse nossas almas. O pai já tinha saído para trabalhar, mas antes de sair, acariciou minha cabeça e sussurrou:

– Fica de olho no nosso herói.

Eu, como sempre, balancei o rabo e prometi com o olhar que nada aconteceria enquanto estivesse por perto. Diego estava sentado na mesa, dando pequenos goles em sua caneca de leite com chocolate. Entre um gole e outro, mexia o biscoito no prato, distraído. Senti que o corpo dele estava um pouco tenso. Olhei para seus olhos castanhos e percebi uma mistura de alegria e ansiedade.

– Hoje vai ser um dia importante, Sombra – ele disse, sem tirar os olhos do seu biscoito. – Hoje as crianças da escola vão vir aqui.

Eu levantei as orelhas. Não era comum que colegas de Diego viessem até nossa casa. Sabia que alguns pais ainda tinham certo receio de nos visitar, e que a maioria das interações aconteciam na escola. Aquilo era novo.

– Elas querem te abraçar – completou, olhando para mim.

A mãe, que lavava a louça, parou e nos olhou:

– É verdade. Após a apresentação do outro dia, as crianças perguntaram se poderiam conhecer o Sombra melhor. Eles querem agradecer. Querem abraçar, fazer desenhos, brincar. Perguntaram se havia risco de alergia ou se ficariam machucados. A professora explicou que você é dócil. Então, vamos recebê-los.

Meu coração canino disparou. Eu nunca tive muitos encontros com grupos de crianças ao mesmo tempo. Já tinha sido abraçado por Diego inúmeras vezes, ou acariciado por alguém ou outro. Mas um grupo de crianças? Como seria? Lembrei-me das vezes em que, no passado, a proximidade com crianças causava repulsa ou medo em alguns pais. Algumas vezes, ao me verem deitar ao lado de Diego no parque, recebi olhares atravessados ou pedidos para que me afastasse, como se minha presença pudesse contaminar. Agora, as crianças vinham a mim.

Diego segurou minha pata, como sempre fazia para transmitir confiança:

– Vai ser divertido, né, Sombra?

Eu lambi sua mão em resposta, mas confesso que bateu um frio na barriga. Pensei: “E se eu latir muito alto e assustá-las? E se eu me empolgar e derrubá-las? E se alguém for alérgico? E se eu não conseguir ficar calmo o tempo todo?”

A mãe, percebendo minha ansiedade, se agachou ao meu lado e acariciou meu pescoço.

– Você não precisa se preocupar. Só precisa ser você. E isso sempre foi o suficiente.

Sorri com os olhos e relaxei. Lembrei-me de todas as vezes em que pensei que não conseguiria: quando achei que não entraria na escola, quando vi Diego desmoronar, quando tive medo de ser rejeitado. Sempre deu certo. E dessa vez também daria.

Preparativos para a visita

Antes que as crianças chegassem, a mãe e o pai decidiram preparar a casa. O quintal foi varrido, as cadeiras arrumadas em círculo, e um tapete grande foi estendido na sala, justamente o tapete azul onde tantas histórias já aconteceram, para que as crianças pudessem sentar e desenhar. Colocaram recipientes de álcool em gel em cada canto, para a higiene das mãos. Também separaram algumas almofadas para que quem quisesse se sentar no chão com mais conforto pudesse fazê-lo.

Eu acompanhava cada movimento, meu olfato registrando tudo: o cheiro de pano molhado, o aroma de sabão, o perfume de flores no vaso, o calor que emanava do ferro de passar, que a mãe usou para deixar a toalha da mesa impecável. Senti também a ansiedade no ar, um cheiro diferente, quase metálico, talvez vindo do suor de cada um que trabalhava para deixar tudo perfeito.

– Posso passar um pouco de perfume nele? – perguntou a mãe, brincando. – Quero que ele esteja cheiroso.

– Não, não precisa – riu Diego. – O Sombra tem cheiro de amor, não precisa de perfume.

Pensei que talvez um banho naquela manhã fizesse bem. Mamãe decidiu então me dar um banho rápido. A água morna escorria pelo meu pelo, levando embora a poeira da rua e o cheiro forte do quintal. Enquanto a mãe esfregava meu corpo com carinho, recordei outras vezes em que o banho era sinônimo de alívio e brincadeira. A água tinha o poder de lavar não apenas a sujeira, mas também as memórias ruins. Saí do banho com o pelo brilhante e macio, pronto para abraços.

Depois, o pai veio com uma escova e penteou cuidadosamente cada mecha. Havia luz no olhar dele. Ele se ajoelhou ao meu lado e murmurou:

– Quem diria que veríamos um dia em que você seria motivo de festa para toda a escola? – suspirou. – Eu, há alguns anos, não permitia que animais entrassem na sala de casa. E agora você dorme na cama com a gente. É engraçado como a vida nos ensina.

Eu balancei o rabo, lembrando-me de quando ficava do lado de fora, ao relento, esperando ser acolhido. Sim, a vida dá voltas, e as portas se abrem. Quando enxuguei a última gota de água e o sol aqueceu meu pelo, senti uma energia. Nada poderia dar errado, pensei. Tudo estava pronto. Só faltava a chegada das crianças.

O ônibus escolar e os olhares curiosos

Por volta das dez da manhã, ouvimos o barulho de um ônibus escolar parando em frente de casa. Era amarelo, brilhante, com uma pequena rampa lateral. As vozes de crianças se multiplicaram, rindo e conversando. Eu senti o coração pulsar forte de emoção. Diego correu para a janela e espiou:

– Eles chegaram! – disse, com os olhos brilhando. – Vamos lá fora, Sombra. Mas calma, tá? – acrescentou, segurando minha coleira.

Eu me posicionei ao lado dele. Mamãe abriu o portão. Vimos a professora, com uma prancheta na mão, orientando as crianças para descerem devagar. Cada uma carregava uma pequena mochila. Algumas seguravam papéis coloridos e caixas de lápis de cor. Outras traziam brinquedos. Havia rostos conhecidos da sala de Diego e outras crianças que eu não tinha visto antes, provavelmente dos outros anos da escola. Os rostos eram iluminados por curiosidade, empolgação e timidez. Era uma mistura de cheiros de shampoo infantil, chocolate derretido, cola, e da inocência.

Quando me viram, algumas crianças abriram a boca em um “Ooooh!” silencioso. Outras apontaram e cochicharam. Uma garotinha, com tranças e vestido de bolinhas, olhou para mim e disse:

– Olha, mãe, ele é grande!

A mãe dela, com sorriso tímido, respondeu:

– Sim, é ele.

E ali estava eu, parado no portão, olhando para eles. Eles me olhavam de volta. Houve um segundo de silêncio, como se o tempo se estendesse por um fio invisível. Eu latiria? Eu pularia? Qual seria a minha reação?

Senti a mão de Diego apertando a minha coleira e ouvi a voz da professora dizendo:

– Crianças, lembrem-se do que conversamos. O Sombra é parte da família do Diego. Vamos nos aproximar devagar, com carinho. Ele é amigável, mas precisamos respeitar o espaço dele também. Tudo bem?

Todas assentiram, algumas mais empolgadas, outras com o olhar tímido. A professora se aproximou de mim e acariciou meu pescoço. Ela sussurrou baixinho: “Obrigada”. Achei curioso como ela havia mudado tanto desde a primeira vez que a ouvi falando. Lembrei-me de sua frase infeliz, e agora, vendo-a ali, percebi que as pessoas também têm seu processo de aprendizado. Eu a perdoava naquele instante. Mais ainda: eu compreendia que, naquele momento, ela estava me dizendo que eu era importante.

O primeiro abraço coletivo

As crianças formaram uma fila organizada. Cada uma segurava um pedaço de papel colorido. A professora pediu:

– Mostrem primeiro seus desenhos para o Diego e para o Sombra.

A primeira criança era uma garotinha de óculos, com um sorriso tímido. Ela entregou um desenho ao Diego. Era colorido, com dois bonecos de palitinho. Um deles em cadeira de rodas, outro em pé. Entre eles, havia um cachorro marrom. No desenho, em cima, estava escrito: “Diego + Sombra = ♥”. Diego sorriu.

– Lindo! – disse ele, emocionado.

– É pra vocês – ela falou baixinho, acariciando minha cabeça. Eu encostei o focinho na mão dela, cheirando aquele papel com cheiro de lápis de cor. Senti o cheiro de tinta, de árvore que se tornou papel, e um leve perfume infantil. Ela me abraçou com delicadeza, e eu retribuí. A energia que veio daquele abraço era pura e leve, como brisa. Ela ficou assim por uns segundos, sentindo meu pelo e sorrindo.

Depois, veio um menino com os cabelos bagunçados e covinhas no rosto. Entregou um desenho em que eu estava com capa de super-herói. Diego riu alto. O menino falou:

– Você é um supercão de verdade, Sombra. Obrigado por cuidar do Diego.

Ele me abraçou com força. Eu senti sua alegria pulsando, com braços pequenos que se esforçavam para alcançar meu pescoço grosso. Senti também sua respiração quente contra meu pelo. Percebi que aquele abraço não era apenas físico. Era um abraço de admiração. Ele sussurrou algo e eu ouvi: “Queria ter um Sombra pra mim.”

Aos poucos, cada criança veio com seu desenho, suas palavras, suas mãos quentinhas. Cada uma me abraçou de um jeito diferente. Algumas encostaram o rosto no meu dorso, sentindo a maciez. Outras me abraçaram de ladinho, como se eu fosse grande demais. Uma menina com síndrome de Down me abraçou com tamanha ternura que pensei que ia derreter. Ela ficou ali, com a cabeça sobre minha barriga, me balançando como se eu fosse um travesseiro, cantando uma música suave que parecia ser só para nós dois. Sua mãe, em lágrimas, dizia:

– Ela nunca fica tão tranquila com estranhos. Mas com você… – suspirou. – Você tem algo especial.

Eu queria perguntar: “Especial, eu?” Mas apenas fechei os olhos por um momento e senti a vibração do canto dela. Depois, um garoto mais velho, com cabelo raspado, me abraçou com força. Ele se ajoelhou no chão e me abraçou pelo pescoço, olhando nos meus olhos, como se quisesse dizer algo sem palavras. E, de repente, disse:

– Sabe, Sombra… – sua voz falhou. – Meu pai morreu e, às vezes, eu não tenho com quem abraçar. Eu queria ter alguém para me escutar como você. Obrigado por existir.

Senti o peso daquela confissão. Era como se ele estivesse derramando um segredo no meu ouvido. Encostei minha cabeça na dele, senti suas lágrimas escorrem e lambei sua bochecha. Ali, percebi que era mais do que um cão de apoio. Era um abraço para quem precisava.

A importância do toque

Antes de Diego, nunca pensei sobre a importância de um abraço. Em minha vida antes dele, eu vivia nas ruas, pulava dentro de lixeiras, dormia enrolado em caixas de papelão. Abraço, carinho, toque? Pouco recebi. O dia que Diego me pegou no colo pela primeira vez, senti algo que nunca havia sentido. Achei estranho, mas agradável. Agora, ali, sendo abraçado por tantas crianças, entendi que o toque tem o poder de curar. Curou a dor delas, a minha e a de Diego.

Vi também o quanto o toque precisava ser autorizado e respeitado. Algumas crianças, ansiosas, queriam pular em cima de mim. A professora guiou:

– Pessoal, um de cada vez. Ele é um cachorro, não um brinquedo. Nós abraçamos com amor, não com força.

Outras crianças, tímidas, não sabiam se poderiam me tocar. Eram mais retraídas e olhavam de longe. Para essas, Diego chamou:

– Vem, vem ver como ele é fofinho.

Aos poucos, elas se aproximaram. Algumas apenas encostaram a ponta dos dedos no meu pelo, outras ficaram paradas, contemplando, sorrindo. Uma menina de vestido amarelo me acariciou só com o indicador, como se eu fosse uma obra de arte. Eu senti o toque leve e fiquei quieto, para não assustá-la.

Ao final de cada abraço, as crianças se emocionavam. Era como se o simples ato de encostar em mim e sentir a textura do meu pelo as ligasse a algo maior: a noção de que amor não tem forma. E eu percebia que abraçava não só com meu corpo, mas com minha essência. Não tinha diploma, não tinha certificado. Meu currículo era composto de lambidas, olhares, rabos balançando. E aquilo bastava.

Conversas profundas em meio à inocência

Após os abraços, as crianças se sentaram no tapete azul, formando uma roda. Mamãe serviu suco e biscoitos. A professora se sentou com um caderno no colo e propôs uma roda de conversa. Eu me deitei no meio, olhando cada rosto, cada sorriso, cada sobrancelha franzida de curiosidade.

– O que vocês sentiram ao abraçar o Sombra? – perguntou a professora.

Uma garotinha levantou a mão:

– Eu senti carinho. Ele parece algodão doce, só que mais quentinho.

Todos riram. Outro garoto disse:

– Eu senti que ele é nosso amigo, mesmo sem falar.

Uma menina com cachos e olhos espertos completou:

– Eu senti que, se a gente abraçar mais os outros, as pessoas vão ficar melhores.

Papai, que assistia à roda de longe, enxugava lágrimas. Mamãe sorria. Diego, com as mãos cruzadas sobre as pernas, ouvia e se emocionava. A professora continuou:

– Por que é importante abraçarmos uns aos outros?

– Porque a gente passa amor – respondeu uma das crianças.

– Porque a gente sente que não está sozinho – respondeu outra.

Diego, então, levantou a mão:

– Porque abraçar o Sombra me ensina a sentir o coração dele. E, quando ele me abraça, eu sei que tudo vai ficar bem.

Houve silêncio, e uma menina perguntou:

– Diego, quando você ficou triste por causa da professora lá atrás, você queria um abraço?

Ele pensou, respirou e respondeu:

– Eu queria. Eu não sabia como pedir. Às vezes, a gente sente vergonha. Mas o Sombra se aproximou, e eu entendi que não precisava pedir. Então, sim, eu queria um abraço. E quero mais, sempre que precisar.

As crianças entenderam. Algumas se levantaram e correram para abraçá-lo. Eu me levantei para não atrapalhar e vi as crianças o rodearem, abraçando-o como um boneco de pelúcia. Ele sorriu, com lágrimas caindo. E eu me aproximei, rodeando-os com meu corpo, como um guardião de abraços. Foi então que senti, de novo, aquela energia. Era como se aquele círculo de braços e sorrisos fosse um escudo contra o preconceito e a dor. Era como se todas aquelas crianças, ao abraçarem Diego e a mim, estivessem dizendo: “Nós entendemos. Nós apoiamos. Nós somos um.”

O depoimento inesperado de um pai

Após a sessão de abraços e conversas, um pai pediu a palavra. Ele era alto, tinha o cabelo grisalho e uma camisa surrada. Era o pai do menino que me confessara, dias antes, sua tristeza pela morte do pai. Ele se levantou, olhou para todos e disse:

– Eu nunca pensei que viria à casa de alguém para aprender sobre um cachorro. Sempre achei que animal é animal, que tem lugar de animal e lugar de gente. Quando meu filho me contou que o cachorro ajudava o Diego, achei exagero. Mas, ao vê-lo abraçar o Sombra com tanto carinho e falar que ele preenche um vazio no coração, percebi que eu estava enganado. Hoje entendi que um abraço pode fazer mais do que mil palavras. Obrigado por abrir a porta. Eu prometo que vou abrir a minha.

Houve aplausos. Algumas pessoas choraram. Mamãe abraçou esse pai, e ele chorou no ombro dela. Vi em seus olhos que algo havia se transformado. E fiquei feliz.

Um artista em ascensão

Algumas crianças, inspiradas, começaram a desenhar mais. Traziam lápis de cor, canetinhas, colas coloridas, glitters. Sentaram-se no chão, ao meu redor, e passaram a criar obras. Uma desenhou Diego e eu em uma nave espacial. Outra desenhou uma bola de futebol com as nossas patinhas ao redor. Um garoto desenhou um coração enorme com vários braços. Alguém me desenhou em forma de pão de mel (não entendi o porquê, mas achei engraçado). Todas as folhas tinham uma coisa em comum: um grande sorriso. Parecia que as mãos das crianças estavam canalizando a alegria. E o interessante: ninguém ficou perguntando por que Diego não usava as pernas. Eles já sabiam. Para eles, isso não definia mais quem ele era. O que definia era a amizade, o carinho, o abraço.

Houve também um momento em que Diego, incentivado pelos pais, pegou um lápis. Na frente de todos, ele escreveu em uma folha: “ABRAÇO”. As letras saíram tortas, mas legíveis. As crianças aplaudiram. A professora chorou. Eu lambi a mão dele. Diego me olhou e disse:

– Foi por causa de você que aprendi a mexer o dedo, lembra? E agora eu escrevi “abraço”, porque você me ensinou a dar e receber.

A despedida e os abraços finais

Quando o sol começou a se pôr, o evento chegou ao fim. Era hora de todos voltarem para casa. Algumas crianças estavam exaustas, mas satisfeitas. Outras se negavam a ir embora, alegando que tinham mais desenhos para dar. Uma mãe gentilmente disse:

– Vocês podem vir outro dia. O Sombra vive aqui.

A professora se aproximou de Diego e de mim e nos agradeceu:

– Eu aprendi muito mais do que ensinei. Obrigada por me mostrarem que todos merecem abraços.

Algumas crianças fizeram fila novamente, cada uma com um desenho na mão, pedindo para deixar conosco. Senti o cheiro de cola fresca, glitter, tinta e canetinha, tudo misturado. Diego colocou cada desenho em uma caixa, dizendo que guardaria para sempre. Algumas crianças me abraçaram novamente antes de ir, como se não quisessem soltar. Eu não reclamava; senti meus ossos cansados, mas meu coração revigorado.

Antes de irem embora, Diego disse:

– Vocês podem vir sempre que quiserem. Nossa casa é de vocês. – E as crianças acenaram, sorrindo.

Reflexões sob o luar

Naquela noite, deitei-me com Diego no tapete azul. O perfume das flores da tarde ainda estava no ar. Senti o vento entrando pela janela, trazendo um frescor de pós-tempestade. A mãe de Diego nos cobriu com um cobertor leve. O pai se aproximou, acariciou meus pelos, e disse:

– Hoje vi com os meus próprios olhos o poder de um abraço.

Diego me olhou:

– Sombra, lembra quando você veio para cá? Lembra como você estava sozinho? – Eu lambi sua mão, lembrando de tudo. – Hoje, você foi abraçado por tantas crianças. Elas te amam. Elas entendem. Você percebe?

Eu vi lágrimas nos olhos dele. Lágrimas de alegria, de emoção, de gratidão. Encostei o focinho no seu rosto, sentindo o gosto salgado.

Pensei em tudo o que vivemos. Pensei em quantas portas se abriram. Pensei nas crianças, nos pais, na professora, no pai que disse que queria aprender. Lembrei-me de como tantas vezes duvidei se eu conseguiria fazer a diferença, mesmo sem treinamento formal. E percebi que a diferença estava nos detalhes: no amor silencioso, no cheiro dos desenhos, no toque das mãos pequenas, na sinceridade das palavras.

Lembrei-me da frase do pai: “Prometo que vou abrir a minha porta.” E entendi que as portas que a escola abriu não eram apenas físicas, mas metafóricas. As crianças, ao me abraçar, abriram suas portas internas para o diferente, para o desconhecido, para o amor. Os pais, ao nos conhecerem, abriram seus corações para algo que antes julgavam. E eu, ao receber cada abraço, abri meu coração para mostrar que um cão também pode sentir, perceber e ensinar.

Adormeci ali, ouvindo a respiração de Diego, sentindo a proximidade dele, sabendo que a partir daquele dia, sempre que uma criança tivesse medo ou dúvida, eu seria lembrado como o cachorro que recebeu abraços sem medo. E, ao pensar nisso, lembrei-me da história de uma menina do outro lado da cidade, que tinha pavor de cães, mas vendo a reportagem sobre nós, disse à mãe:

– Mãe, quero abraçar o Sombra um dia.

Talvez ela venha. Talvez abra a porta, atravesse a rua, toque meu pelo. E estarei pronto.

Epílogo: o poder de um abraço

O tempo passou. As crianças cresceram. Algumas saíram da escola, outras entraram. Nossas vidas seguiram. Mas aquele dia ficou marcado. E de vez em quando, quando encontramos alguém pela rua, eles dizem:

– Ei, Sombra! Você lembra de mim? Eu fui uma das crianças que te abraçou.

E eu me aproximo, cheirando a palma da mão, abanando o rabo, lembrando dos toques, dos cheiros, das risadas. E eles, mais velhos agora, ainda me abraçam com a mesma ternura. Percebo que cresceram, mas guardaram em si a essência daquele encontro.

Às vezes, Diego recebe mensagens no celular com fotos de desenhos antigos. As crianças, agora adolescentes, mandam uma foto dizendo:

– Guardo isso até hoje. Obrigada por me ensinar a amar.

E ele responde com uma foto nossa, agora com pelos brancos, dizendo:

– E eu guardo vocês aqui. Obrigado por me abraçarem quando eu mais precisava.

Abordar o tema “As Crianças que Queriam Me Abraçar” é, para mim, revisitar o dia em que percebi que, mesmo sem treinamento, eu podia ser ponte entre corações. Aquele dia mostrou que o mundo pode mudar quando o amor de um cão, a coragem de um menino e a curiosidade de crianças se encontram. Mostrou que, sim, portas se abrem. E mais do que isso: que abraços curam, transformam e fortalecem.

Se posso deixar uma mensagem final, é esta: Se um dia você encontrar alguém diferente de você, abrace. O abraço não cura a deficiência, não remove a dor, não elimina o preconceito de imediato. Mas ele diz: “Eu estou aqui. Eu reconheço você. Eu te respeito.” E isso já é um começo. Isso já é uma porta aberta. E, às vezes, tudo que precisamos é de uma porta e um cão chamado Sombra esperando para atravessá-la ao lado de um menino chamado Diego.


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