Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
eBook • Receitas Caseiras

Receitas Saudáveis para seu Cão — mais energia, pelagem e bem-estar

Um guia prático com receitas caseiras balanceadas, ingredientes naturais e dicas simples para você preparar refeições nutritivas que seu cachorro vai amar.

  • Ingredientes naturais que realmente nutrem
  • Receitas fáceis e balanceadas — passo a passo
  • Dicas para prevenir problemas digestivos e alergias
  • Mais disposição e pelagem saudável
Fácil de seguir Passo a passo ilustrado
Rápido Receitas em minutos
Seguro Compras pela Hotmart

O que você recebe

No eBook você encontrará receitas balanceadas, orientações sobre ingredientes, porções por peso/idade, e dicas para adaptar as receitas conforme necessidades do seu pet.

Perguntas frequentes

O eBook traz receitas para cães adultos e filhotes (com adaptações). Para casos específicos de saúde, consulte o veterinário.

Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

Arquivo do blog

Capítulo 71 - A Apresentação na Feira da Escola

Na feira da escola, Diego e Sombra emocionam colegas e professores; um gesto simples vira aplauso, pertencimento e futuro.

Capítulo 71 - A Apresentação na Feira da Escola

O pátio da escola amanheceu vestido de bandeirolas coloridas. Mesas enfeitadas, cartazes feitos à mão, cheiro de pipoca estourando cedo — e, por trás de tudo, um murmurinho de expectativas que corria feito vento entre as árvores do recreio. Era dia de feira: ciências, artes, pequenos projetos. A cidade inteira parecia ter sido convidada. As crianças carregavam em caixas de sapato seus vulcões de papel machê, maquetes de sistemas solares e experimentos com ímãs; pais ajeitavam câmeras, avós escolhiam assentos nas cadeiras de plástico. E, de repente, por entre a multidão, surgiu um cortejo manso: Diego, a mãe empurrando a cadeira adaptada, o pai ao lado, e eu — Sombra — caminhando junto, atento, com o peito aberto como quem declarou, na linguagem dos cães, que aquele era um dia importante.

Eu sentia o coração de Diego bater mais rápido. O cheiro dele — uma mistura singular de sabonete infantil, tecido lavado e uma ponta fina de ansiedade — me avisava dos pensamentos antes mesmo que eles chegassem aos olhos. A mão direita dele descansava sobre a manta azul-marinho; quando encostei o focinho, ele afagou minhas orelhas num carinho breve que me contou tudo: estou um pouco nervoso, mas feliz. Bati a cauda duas vezes, firme. Era a senha silenciosa que nós dois combinamos sem palavras: eu estou aqui.

A professora Lídia veio nos receber na entrada do auditório improvisado. Tinha nos olhos um brilho de festa e, na voz, um cuidado que não fazia barulho, mas envolvia. “O nosso estande está ali, perto do palco,” explicou, apontando. “Tem uma tomada para o tablet, cadeira estabilizada e… surpresa.” A mãe sorriu, desconfiada de coisa boa. Seguimos por entre corredores de cartazes até avistarmos o painel com fundo amarelo e letras azuis: “Comunicação que abraça: Diego & Sombra”. Abaixo, uma foto dos dois — o garoto e eu — colada com fita transparente. Eu me reconheci no papel e, por um segundo, inclinei a cabeça para um lado, ouvindo dentro de mim o estalo doce da memória: a primeira letra no tablet, a festa dos dez anos, o dia do jornal… tudo cabia nas páginas do nosso caminho até ali.

A mãe respirou fundo. Eu a vi ajeitar discretamente o colarinho da blusa como quem prepara a coragem. “Vamos devagar,” sussurrou para Diego. O pai assentiu, tocando de leve o ombro do filho. Sobre a mesa, o tablet dormia em fundo branco; um suporte novo, macio, segurava a caneta digital na posição certa. Colaram ao lado uma sequência de fotos: os lábios de Diego formando um quase-som; a letra A grande, colorida; o nome DIEGO trêmulo e perfeito. Mais abaixo, um cartaz escrito à mão com caligrafia nítida: “As palavras também nascem do silêncio.” Quando li, ou melhor, quando senti aquela frase, deitei aos pés de Diego, guardando.

A feira fervilhava. De repente, veio a música do outro estande, crianças batendo palmas no experimento do vulcão. Diego piscou rápido; eu encostei o corpo no dele, criando abrigo entre o barulho e o peito do meu menino. A mãe passou a mão nos meus pelos, como quem agradece por eu saber a hora de virar casinha. “Tudo bem, amor,” disse ao filho, num tom de manhã serena. “A professora Lídia treinou o microfone para ficar baixinho. E lembra? Ensaiamos isso.” Ensaiamos, sim: a mãe, paciente, vinha há semanas preparando o passo a passo, e — de leve, sem alarde — contou para a professora que havia terminado o Curso de Adestrador de Cães online do site, meses atrás, para me ensinar comandos úteis em ambientes cheios: junto, fica, acolhe. Eu aprendi a ancorar meu corpo ao lado da cadeira, a me deitar quando o som aumentava, a servir de ponte e proteção. Não foi sobre truques; foi sobre presença. Hoje, tudo aquilo iria fazer sentido.

A diretora chamou o microfone. “Agora, um momento especial: nossa feira não mostra só projetos, mostra pessoas. E a pessoa que convidamos a apresentar descobriu que a palavra cabe no silêncio e o silêncio cabe no amor. Com vocês: Diego, sua família e o Sombra.” Houve um oh discreto no ar, um apagar de cochichos. A mãe empurrou a cadeira um pouco adiante; eu fui junto, na cadência que treinamos. O pai conectou o tablet, a tela acendeu devagar, branca, limpa, como neve esperando o primeiro rastro.

A professora Lídia se abaixou à altura de Diego. “Topa mostrar como vocês conversam?” Diego olhou para mim; eu me aproximei até meu focinho tocar a mão dele — sinal de partida. Ele respirou, aquela respiração de mergulhador que vimos nas sessões de fono, e a mãe posicionou seus dedos na caneta digital, apenas para estabilizar. O auditório respirou com a gente. Um… dois… três… O primeiro toque.

A letra D nasceu de novo — tortinha, com a curva se agarrando à haste — e eu tive vontade de pular, mas fiquei. Aplauso contido. A mãe sorriu sem mostrar os dentes, uma alegria de quem segura lágrima para não borrar o passo seguinte. O I veio rápido, depois o E — que sempre cansa um pouco. A professora, de joelhos ao lado, sussurrou “força”. O G exigiu paciência, e a sala inteira aprendeu a arte de esperar. E então o O fechou a volta, uma bola quase oval, e a sala explodiu num ah! que virou palmas — não daquelas barulhentas de estádio, mas palmas que parecem abraço. Diego, sem olhar para ninguém, encarou o próprio nome na tela como quem se reconhece num espelho pela primeira vez. Diego. Ele. Inteiro.

Eu, Sombra, não aguentei: encostei a cabeça no colo dele, e ele deixou a mão cair em cima do meu pescoço, ainda tremendo do esforço. Foi um gesto tão simples e tão lindo que senti qualquer medo ir embora. A mãe encostou a testa na têmpora do filho. O pai passou o braço pelos dois. A professora ficou com as mãos no ar, como quem reza, e depois riu de si mesma, apertando as palmas baixinho de novo. A diretora enxugou um canto do olho. E o auditório parou num silêncio cheio de gente. Às vezes, a explicação é deixar o coração ver.

— Diego… você quer tentar uma palavra hoje? — perguntou Lídia, suavemente. O menino respirou, olhou a mãe, olhou para mim. A mãe não disse vai, nem não vai. Disse com os olhos: estamos aqui. O cursor piscou no app como uma pequena bravura acesa. A mão de Diego recomeçou a dança. Primeiro, M — as duas montanhas cuidadosas; depois, A; então… ele colou mais uma M, respirou como quem quase ri, e fechou com ÃE (um ã tremido e uma perna de E rouca que a gente entendeu). Na tela, torto e absoluto: MAMÃE.

Não sei quem começou a chorar primeiro. Talvez todo mundo ao mesmo tempo. Eu senti a água salgar o ar — reconhecimento instantâneo no meu faro — e encostei o focinho no punho de Diego, como quem diz eu vi. A mãe levou as mãos à boca, e o pai encostou o queixo na cabeça do filho. Diego olhou para o próprio mamãe e, por um instante que eu guardarei até o último pelo, sorriu até os olhos dobrarem — o sorriso que só aparece na passagem exata entre medo e coragem. A plateia, sem barulho, se levantou como maré que vem. As palmas eram de afeto, e o afeto tinha o tamanho da escola inteira.

Na fila da esquerda, uma menina de tranças levantou um cartaz que tinha feito no recreio: “A gente entende você.” Do outro lado, um avô enxugou as lágrimas e disse alto demais, pela surdez da idade: “Bravo, menino!”. A professora de artes, mãos cheias de tinta seca, batia palmas de pontinha de dedo. E eu, que não bato palmas, apoiei as duas patas na lateral da cadeira, pedindo licença para deixar um beijo de cachorro no rosto do meu melhor amigo. Ele fechou os olhos e riu com o corpo todo. Que som lindo é a risada sem som.

O tempo, então, virou praça. Vizinhos que leram sobre nós no jornal vieram tirar foto com o painel. A mãe foi parada pela psicopedagoga, que perguntou sobre os recursos do tablet; a fono foi chamada ao celular, e a ligação terminou em “parabéns” repetido; a diretora pediu, com delicadeza, se poderíamos falar numa roda de famílias sobre o caminho que encontramos. “Falaremos,” disse a mãe, respirando como quem assume um pequeno juramento. E completou, tímida, quase em segredo: “Se for útil, posso compartilhar o que aprendi no Curso de Adestrador de Cães… foi assim que preparei o Sombra para lugares cheios. O resto quem ensinou foi o amor.” A diretora sorriu, emocionada: “Então o curso virou ponte.” A mãe: “Virou colo.”

Mais tarde, quando o movimento cedeu, a professora Lídia trouxe um presente: um crachá com fita azul-marinho, letras brancas: “Apresentador”. Prendeu com cuidado na alça da cadeira de Diego. Ele ficou sério um segundo, como quem mede o peso de uma palavra nova, e então ergueu o queixo de leve. Apresentador. Era bonito ver pertença virando crachá.

Ficamos por ali um tempo grande, contando a nossa história em círculos pequenos: duas, três, cinco pessoas. Eu deitava, levantava, deitava outra vez, conforme a necessidade do meu menino. Quando o barulho subia, eu encostava mais; quando baixava, me afastava um passo para que ele me “chamasse” com a mão. Ele me chamava. Eu ia. Às vezes, só isso já é tudo.

No fim da manhã, chamaram as últimas apresentações para o palco. Um grupo cantou, outro mostrou o robô que fazia zigue-zague. A diretora, por fim, convidou “um momento derradeiro de delicadeza”. Subimos sem urgência, como quem sobe para acender vela e não para acender holofote. A mãe segurou o microfone baixo, agradeceu à escola, falou da rede de cuidado que nos sustenta: os professores, os terapeutas, os vizinhos, os amigos. O pai, com a mão no ombro do filho, disse: “A gente não sabia que era possível até começar. O possível, às vezes, é uma estrada que aparece enquanto a gente caminha.”

— E o Sombra? — alguém perguntou, entre risos leves. A mãe sorriu: “O Sombra aprendeu a escutar o que a gente não escuta. Eu só ajudei com alguns comandos, coisa simples que aprendi num curso de adestramento. O resto ele faz sozinho, porque ama.”

A diretora pediu um gesto de encerramento. A professora olhou para Diego: “Você quer escolher?” Ele encarou o tablet. Na tela branca, desenhou devagar o A de agora, de abrir, de amor. Parou, olhou para mim, depois para a mãe. Acrescentou M. O auditório percebeu a estrada e ficou em silêncio de capela. Mais um O — redondo como abraço. E parou aí. AMO. A palavra ficou pairando no telão, projetada grande, respirando. As palmas vieram como chuva fina. A mãe encostou a testa na dele. Eu encostei meu peito no pé do seu sapato. O pai fechou o olho para não chorar mais.

A feira foi se esvaziando com a mansidão de fins de festa. O pátio cheirava a algodão-doce e tinta guache. Guardaram-se cartazes, vulcões, cabos de extensão. Nós ficamos por último, recolhendo devagar os fios e as memórias. A menina das tranças veio se despedir, deixou um adesivo brilhante na moldura do tablet — uma estrela pequenina. “Pra quando der vontade de desistir,” disse. A mãe agradeceu. Eu a cheirei: cheiro de infância e coragem. Diego apontou para a estrela, e eu tive certeza de que ele entendeu.

Na calçada, antes de ir embora, a professora Lídia apertou nossas mãos. “Obrigada por fazerem da escola uma casa,” disse. A mãe respondeu: “Obrigada por fazerem da casa uma escola.” E riram — aquelas risadas leves de quem achou uma frase alpendre.

No caminho de casa, o sol fazia manchas no asfalto. Eu ia colado na roda esquerda da cadeira, do lado de sempre. O pai andava à direita, do lado de sempre. A mãe ia atrás, empurrando, do jeito de sempre, mas com uma leveza nova no passo, como quem descobriu que a subida da rua ficou menos íngreme. Diego, cansado-bom, recostou a cabeça, mas os olhos não paravam quietos: iam do céu às folhas, das folhas à minha orelha, da minha orelha aos dedos da mãe. Em certo ponto, ele me “chamou” com a mão. Encostei. Ele encostou a testa na minha e sussurrou — aquele som quase segredo que só eu sei ouvir. Não precisava de tradução. Eu respondi abanando a cauda, e o mundo coube nesse gesto.

Em casa, a tarde escorreu pela sala como mel. O pai colou o crachá “Apresentador” no mural de cortiça, ao lado do recorte do jornal e da foto do aniversário. A mãe, com cuidado, salvou no tablet a palavra AMO, como quem guarda um talismã. Depois, desligou a tela e nos chamou para a varanda. O vento soprava morno; a rua tinha o barulho das horas benignas. Eu deitei, Diego me usou de travesseiro, e a mãe ficou contando em voz baixa quantas vezes o coração da gente bate quando está em paz.

Quando o céu começou a corar, a mãe sussurrou:
— Filho… obrigada por nos ensinar que apresentar é oferecer o coração.
Diego piscou devagar. Eu confirmei com a cauda.

E a feira da escola continuou vivendo dentro da gente: nas bandeirolas que o vento ainda balançava na lembrança, no corredor que cheirava a guache, no A que abre, no M que monta coragem, no O que fecha em abraço. Se amanhã alguém perguntar como foi, vou responder do meu jeito: foi o dia em que a escola aprendeu a aplaudir o silêncio — e o silêncio respondeu escrevendo AMO.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Capítulo 97 - O Último Uivo de Amor

Anos depois, Diego volta à árvore de Sombra e descobre que alguns amores nunca morrem — só mudam de forma. Capítulo 97 - O Último Uivo de Am...