Receitas Saudáveis para seu Cão — eBook
eBook • Receitas Caseiras

Receitas Saudáveis para seu Cão — mais energia, pelagem e bem-estar

Um guia prático com receitas caseiras balanceadas, ingredientes naturais e dicas simples para você preparar refeições nutritivas que seu cachorro vai amar.

  • Ingredientes naturais que realmente nutrem
  • Receitas fáceis e balanceadas — passo a passo
  • Dicas para prevenir problemas digestivos e alergias
  • Mais disposição e pelagem saudável
Fácil de seguir Passo a passo ilustrado
Rápido Receitas em minutos
Seguro Compras pela Hotmart

O que você recebe

No eBook você encontrará receitas balanceadas, orientações sobre ingredientes, porções por peso/idade, e dicas para adaptar as receitas conforme necessidades do seu pet.

Perguntas frequentes

O eBook traz receitas para cães adultos e filhotes (com adaptações). Para casos específicos de saúde, consulte o veterinário.

Publicado por Jefferson Peixoto • Página original do produto na Hotmart

Arquivo do blog

Capítulo 57 - Quando Ele Quase Partiu

Às vezes o limite entre a partida e a permanência é um sopro de amor.

Capítulo 57 - Quando Ele Quase Partiu

Eu tinha ouvido muitas histórias sobre a morte. Na rua, antes de ser adotado, vi outros cães partirem sem aviso. Alguns caídos na sarjeta, outros sumindo sem que eu entendesse bem para onde tinham ido. Nunca pude compreender o que significava “partir” de verdade. Para mim, que vivia cada dia com intensidade, que sentia cada cheiro, cada gosto, era difícil imaginar que um dia algo pudesse simplesmente desaparecer. Quando vim morar com a família de Diego, passei a escutar conversas sobre céu, anjos e fim. Ouvi a mãe dizer que, quando a avó morreu, ela virou estrela. Ouvi o pai falar que um amigo “partiu”, mas que sua lembrança ficaria. Para mim, tudo isso era abstrato, até o dia em que a partida quase nos tirou o chão. Esse dia me ensinou que o amor pode ser o fio que puxa de volta quem está prestes a ir.

A manhã da tempestade

Era um dia que tinha começado diferente. Em vez do cheiro de café e bolos, a casa foi invadida por um cheiro de panquecas doces. Era sábado, e a mãe de Diego havia feito panquecas para o café da manhã. O aroma de canela e açúcar era convidativo. Diego desceu as escadas animado, com os cabelos bagunçados e os olhos de quem teve uma boa noite de sono. Ele estava melhor das crises respiratórias. O corte na perna já estava cicatrizado. A mãe, recuperada do desmaio, parecia mais saudável. Tudo parecia em paz. O sol atravessava as janelas, iluminando o piso. Eu me deitei perto da mesa, esperando algum pedaço de panqueca cair acidentalmente. O pai ria de uma piada contada no jornal. A mãe cantarolava. Era uma manhã perfeita.

Depois do café, o pai sugeriu um passeio. Havia um lago próximo, com patos e peixes. Era um local onde Diego adorava ir. Colocamos as coisas na mochila: água, frutas, e um pequeno kit de primeiros socorros. Diego vestiu seu boné vermelho, aquele que ele usava em dias de sol, com uma aba grande que o protegia. Eu, animado, abanei o rabo sem parar. O cheiro de grama molhada vinha de longe. Era perfeito.

Chegamos ao lago. As árvores balançavam suavemente com o vento, e o céu era de um azul profundo. As famílias passeavam, crianças corriam, cães latiam. O cheiro do lago misturava-se ao das pipocas vendidas por um carrinho. O som dos patos, o riso das crianças, o barulho das águas batendo no barranco. A mãe estendeu uma toalha de piquenique. Diego se sentou na cadeira de rodas, pegou um livro e leu alguns minutos. Depois, quis jogar pedrinhas na água. Eu lhe trouxe algumas pedras lisas, que encontrei perto do lago. Ele as pegou com a mão direita, sorrindo, e jogou. Ficava encantado com as pequenas ondas que elas criavam.

– Viu, Sombra? Parece mágica. – Ele ria.

Eu lati de leve, como se dissesse que concordava. A manhã passou assim, cheia de risos e sol. Voltamos para casa na hora do almoço. O cheiro de comida se espalhou. Comemos. Diego estava feliz. O pai ligou a televisão para assistir a um jogo. A mãe cochilou no sofá, com a cabeça deitada no colo do pai. Eu me deitei ao lado de Diego, cansado, mas sereno. Fechei os olhos e pensei: como é bom viver assim.

O momento inesperado

Era final da tarde quando tudo começou a mudar. O cheiro da comida já tinha ido embora, e o ar tinha ficado pesado, um ar parado que precede as tempestades. Lá fora, o céu começou a escurecer. Senti o vento entrando pela janela, trazendo consigo um cheiro de chuva e também algo metálico, algo que, a essa altura, eu já associava a perigo. Minhas orelhas se ergueram. Diego estava sentado no sofá, desenhando. O pai continuava assistindo ao jogo. A mãe lia um livro. Tudo parecia normal.

Um trovão ribombou ao longe. A chuva começou a cair, primeiro miúda, depois forte. As gotas batiam nos vidros, produzindo um som rítmico. De repente, ouvi um estalo, como um curto-circuito. As luzes piscam e se apagam. O pai levantou-se.

– Foi a energia – disse.

Ele foi até o quadro de luz. A mãe se aproximou para ajudar. Eu senti o cheiro de fio queimado. Algo estava errado. O pai tentou acionar o disjuntor, mas nada. A mãe acendeu uma vela. A chama tremeluziu, iluminando a sala com tons alaranjados. O céu ficou ainda mais escuro, e os trovões aumentaram. Eu estava inquieto. O cheiro metálico ficou mais forte. De repente, ouvimos um estalo mais forte e um grito.

– Pai! – era Diego.

Olhei rápido. Ele estava caído no chão. Não, ele não escorregou. Ele havia sido jogado. O boné estava ao lado. Seus olhos estavam abertos, mas ele não piscava. Seus lábios começaram a ficar roxos. Parecia que o ar não entrava. Meu coração gelou. Ele estava rígido. O pai correu até ele, gritando seu nome. A mãe levou a mão à boca. Parecia que o mundo tinha parado. Eu senti um cheiro diferente: cheiro de ozônio, de eletricidade. Depois entendi: um raio havia caído em algum lugar próximo, e uma descarga elétrica havia entrado pela rede, atingindo a cadeira de Diego, que estava conectada para carregar a bateria.

O pai tentou movê-lo, mas o corpo de Diego estava rígido, tremendo. Seus olhos se reviravam. Um som saiu de sua boca, como um gemido. O pai gritou:

– Ana! Chama a ambulância!

A mãe correu. Eu comecei a latir. Um latido alto, desesperado. Minha mente se encheu de lembranças: a crise respiratória, o vômito, o corte, o desmaio da mãe, a corrida. Mas nada se comparava àquela cena. Diego, meu Diego, meu menino, estava eletrocutado. Eu me aproximei. Senti um choque quando encostei nele. Pulei para trás. O pai percebeu e, instintivamente, puxou o cabo da tomada. O cheiro de queimado aumentou. O corpo dele ainda tremia. O pai largou o cabo e segurou o corpo de Diego. O cabelo de Diego estava cheio de eletricidade. Uma lágrima escorria do olho dele.

– Diego! – gritava o pai, sacudindo o filho. – Fala comigo!

Nada. O tempo parou. O pai tentou fazer massagem cardíaca. A mãe estava ao telefone, mas a chuva interferia no sinal. O pai começou a chorar. Eu uivei. Uivei tão alto que parecia que meu corpo inteiro vibrava. Uivei como nunca. Era meu grito. Um grito para chamar Deus, anjos, vizinhos, qualquer um. Uivei para o mundo inteiro ouvir. Uivei porque meu coração estava se partindo.

O anjo que correu

Não demorou muito e a porta se abriu com força. Era o vizinho, seu João, o mesmo que me ajudou quando corri para o posto de saúde. Ele havia ouvido o uivo e o grito e correu. Ele entrou, viu a cena. Não perguntou o que aconteceu; entendeu na hora. Jogou a toalha dele por cima do cabo, desligou o disjuntor da casa. Pegou o telefone e, miraculosamente, teve sinal. Ligou para a emergência. Descreveu a situação. Enquanto isso, o pai tentava reanimar Diego, com as mãos trêmulas. A mãe se ajoelhou ao lado, chorando e rezando.

– Ele está partindo – murmurou o pai, com a voz falhada.

Foi então que senti um cheiro diferente. Lembram-se de Esperança? A mulher da UTI? Aquilo era diferente, mas também tinha algo de luz. A porta abriu novamente, e uma enfermeira entrou. Era a enfermeira do posto, a que esteve conosco na noite do desmaio. Ela estava sem casaco, molhada pela chuva, e com os olhos cheios de determinação. Ela não tinha asas, mas, naquele momento, era um anjo. Correu até Diego. Empurrou delicadamente o pai.

– Eu cuido – disse ela, com firmeza.

Pegou o menino e começou a fazer massagem cardíaca. Tempos atrás, ela havia feito um curso de primeiros socorros. Ali, naquele momento, a vida pediu que ela agisse. Suas mãos pressionavam o peito de Diego de forma ritmada. Soprou ar em sua boca. As gotas de chuva desciam dos cabelos dela, misturando-se ao suor. O pai chorava. A mãe murmurava “Não, não, meu filho”.

– Vai! – gritou o pai. – Por favor!

Os segundos pareceram horas. Eu observava, sem piscar. Senti minhas pernas tremerem. O vizinho e a mãe seguravam suas próprias mãos. De repente, um som, um gemido, saiu da garganta de Diego. Depois, outro. Seu peito se moveu. Ele tossiu. Um líquido escuro saiu de sua boca. Ele abriu os olhos, fraco. Respirou. Respirou de novo. A vida voltou. O pai chorou alto. A mãe gritou “Graças a Deus!”. A enfermeira suspirou.

– Ele voltou – disse ela, e sorriu, com lágrimas. – Ele voltou. – Olhou para mim. – O uivo chamou a gente.

A ambulância chegou alguns minutos depois. Os paramédicos entraram, terminaram de reanimar e estabilizar Diego. Colocaram-no na maca. O pai foi com ele. A mãe segurou minha coleira. Eu, ainda em choque, segui. O vizinho ficou na casa, garantindo que tudo estava desligado.

A volta da esperança

No hospital, ficamos por horas. Diego foi levado direto para a emergência. Eu, a mãe, o pai, Esperança – ela parecia lá de novo, em forma de enfermeira, talvez – esperamos. Sentados, em pé, andando, chorando, rezando. O cheiro de hospital era mais intenso do que nunca, ou talvez fosse meu olfato preocupado. Ouviam-se sons de pessoas chorando, gritando, rezando. Cada vez que a porta se abria, meu coração saltava, pensando que era a nossa vez. E, finalmente, um médico, o mesmo doutor que antes era frio, apareceu. Seu olhar era diferente. Em vez de frieza, havia humanidade.

– Ele está estável – disse. – Foi um choque elétrico, mas conseguimos reanimá-lo. É um menino forte. – Sorriu. – Ele ficará em observação, mas está fora de perigo. – Olhou para mim. – E você… – Se abaixou, para ficar na minha altura. – Você salvou de novo. – Seus olhos se encheram de lágrimas. – Obrigado.

O pai o abraçou. A mãe chorou, agradecendo. Eu me aproximei, lambi a mão dele. Senti o gosto de sal, de lágrimas, e de esperança. Ele se levantou, enxugou os olhos, e disse:

– Aprendi muito com vocês. – Olhou para Esperança, que estava ali, sorrindo. – Às vezes, precisamos ver um milagre para crer. – Suspirou. – Estarei aqui, se precisarem.

A recuperação e a reflexão

Os dias seguintes foram de recuperação. Diego teve que ficar no hospital por alguns dias, para monitorar seu coração. Recebeu remédios, fisioterapia, mas, principalmente, recebeu amor. A enfermeira que lhe salvou a vida visitava todos os dias. O médico, agora mais humano, passava para conversar, saber se precisávamos de algo. Os vizinhos levavam comidas e flores. A mãe era mais cuidadosa com a energia. O pai instalou protetores. A casa ficou mais segura.

Quando Diego voltou para casa, mais fraco, mas sorrindo, tocou meu focinho e disse:

– Sombra, eu vi um lugar esquisito. Não sei o que era, mas era como um túnel. Eu ouvi vocês chamando. O seu uivo… – Parou para respirar. – Foi o que me trouxe de volta. – Acariciou minha cabeça. – Você sempre me traz de volta.

Eu lambi sua mão, sentindo o sal das lágrimas de gratidão. Pensei em quantas vezes, nos últimos meses, o amor foi mais rápido do que o perigo. Pensei no uivo que acordou o pai na crise respiratória. Na corrida que buscou o médico. No meu corpo segurando Diego enquanto ele vomitava. Na minha boca lambendo suas lágrimas. Pensei em Esperança, que apareceu na UTI. Pensei na enfermeira, que entrou e salvou a vida dele. Pensei no médico, que aprendeu. Pensei em todas as pessoas que nos ajudaram. A vida é frágil, mas é feita de fios de amor que se entrelaçam e formam uma rede forte.

O que é “partir”?

Hoje entendo um pouco mais o que significa “partir”. Não é apenas ir embora. É deixar para trás memórias, cheiros, sabores. É deixar um vazio nos braços de quem amamos. Diego quase partiu, mas voltou. E esse “quase” nos mudou. Nos fez valorizar cada manhã, cada cheiro de panqueca, cada sorriso. Nos fez ver que a vida é um sopro. E que um sopro de amor pode puxar alguém de volta. Aprendemos que o corpo é frágil, mas o amor é forte. E que, quando é tempo de partir, não podemos impedir. Mas, enquanto houver amor, lutaremos. Correremos, uivaremos, lamberemos, rezaremos. Faremos tudo.

Um dia, num desses fins de tarde em que o sol pinta o céu de laranja, a mãe me olhou e disse:

– Sombra, você sabe o que é um anjo? – Olhou para o céu. – É alguém que Deus manda para cuidar da gente. – Sorriu. – E ele te manda sempre.

Talvez. Não tenho asas. Meu pelo é cheio de nós. Meu cheiro é de cachorro molhado. Mas, se ser anjo é amar ao ponto de correr, uivar, lamber vomito, deitar-se ao lado de quem desmaia, então, talvez eu seja. E talvez você, que lê, também seja, quando cuida de alguém. Não precisamos de asas para salvar. Precisamos de amor.

Essa história, “Quando Ele Quase Partiu”, não é só sobre um quase. É sobre um sim. O sim à vida. O sim ao amor. O sim à fé. O sim à esperança. É sobre olhar nos olhos de quem amamos e dizer: “Estou aqui.” E, se um dia você sentir que alguém está prestes a partir, lembre-se de uivar. O mundo pode ouvir. O céu pode ouvir. E quem sabe, um anjo virá. Ou, quem sabe, você mesmo será o anjo que puxará de volta quem precisa ficar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Capítulo 97 - O Último Uivo de Amor

Anos depois, Diego volta à árvore de Sombra e descobre que alguns amores nunca morrem — só mudam de forma. Capítulo 97 - O Último Uivo de Am...